terça-feira, 3 de junho de 2014

669 - A Crónica do Quiabo - Essências divinais

Bom dia!

Hoje venho falar-vos de uma arte milenar que ao fim de 6000 anos de cheirosa existência atravessa uma fase algo conturbada. Falo, claro, do fabrico de perfumes.

Segundo a wikipédia, essa infalível fonte de sabedoria e conhecimento, a utilização de perfumes remonta, pelo menos, a 4000 a.C.. Segundo Bjorg Estrongulenberg, especialista da wikipédia para cheiros esquisitos, os antigos egípcios já fabricavam e usavam perfumes para não deixarem os seus bonitos sarcófagos a cheirar a morto. Em vez disso preferiam a fragrância a pó, formol ou resina de pinheiro, algo exótico no Egipto.

Uns anos mais tarde, Cristo, também ele um conhecido apreciador de produtos de perfumaria não saía para pregar sem colocar um pouco de seu bouquet favorito, uma mescla de sal-gema, incenso e malva que fez tanto sucesso entre pescadores, vendilhões e reis magos que motivou a bispa Sônia Hernandez da igreja evangélica “Renascer em Cristo”, sediada no…wait for it…Brasil (eu sei que nunca adivinhariam) a recriar essa fragrância abençoada e a coloca-la em frascos da sua marca de produtos de higiene “De bem com a vida”.

Mas a triste realidade é que apesar destes excelentes exemplos a indústria do perfume está ameaçada pois o seu objectivo primordial vê-se cada vez mais profanado. E que objectivo místico é esse? É… cheirar bem.

No século XX com avanços tecnológicos sem precedentes a quantidade de perfumes produzidos disparou, assim como a diversidade de odores, naturais e sintéticos que, sozinhos ou combinados, invadiram o mercado e as narinas do mesmo modo que esvaziaram carteiras. Todo este progresso devia garantir cada vez melhores perfumes segundo o princípio fundamental que, relembro, é cheirar bem, mas não!

Vejamos:

Em 2003 Burberry lança fragrância a “Brita” deixando encantados trolhas e calafeteiros um pouco por todo o mundo. Em 1964 Fabergé lança “Bruto”, um perfume de homem e para homem, e que homem não sonha em cheirar enfim… a bruto! Mais preocupante é o segmento de mercado estreado por Cacherel com o seu “Anais Anais”… o que dizer… bem… talvez que para não ficar atrás da concorrência, Chanel decidiu lançar em 1984 “Côcô” alimentando mais um capítulo deste perigoso desvio dos princípios da perfumaria.

Em 2005 Thierry Mugler trouxe a público a fragrância “Alien” guardada, há décadas, em grande segredo na área 51 pelo governo dos EUA e apesar de estar entre nós há quase dez anos ainda ninguém sabe muito bem ao que aquilo cheira mas um transeunte inquirido pela 669 definiu-a como “Echqjito”. Em mil nove nove e oito, Givenchy lançou “Pi” e que rapariga nunca fantasiou com o seu príncipe encantado no seu corcel branco a cheirar a 3,14159265359…

A preocupação cresce quando determinadas marcas se comercializam sobre designações olfactivamente desagradáveis como a italiana Diesel que insiste em vender perfumes ricos em hidrocarbonetos de origem fóssil ou a também italiana Just Caballi que prefere notas equídeas nos seus aromas.

Mas esta calamidade vem de trás, pois já em 1934 William Schultz vendia “Especiaria Velha” como se fosse uma coisa espectacular. É verdade que o senhor Schultz nunca especificou qual a especiaria em questão, possivelmente para não ferir os sentimentos a nenhuma droga culinária mas experimente o leitor inalar louro bolorento e verá que não é nada pelo que valha a pena largar algumas dezenas de euros.

Até à próxima e não se esqueçam: se querem cheirar bem, lavem-se.

Saúdinha,

Egídio Desidério

Mensagem do Opina: "669 - A Crónica do Quiabo" é a nova rubrica de humor do Opina, na qual o Sr. Egídio Desidério apresentará temas variados e assuntos diversos. Acompanhem no Opina!

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