quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Como falar direito em Caldelas City

É assim, tipo, ya talvez,
Tás a ver... é assim tipo,
Tipo tás a ver, percebes?

Check it out dread
Eu domino a cena
Ficas todo mad
Vou ficar com pena

Agora é que são elas
Este é o meu primo
Este é o meu sócio
Coleguinha, meu amigo

Meu broda do peito
Muito eu respeito
Tás a ver cota?
Tás a ver meu puto?

Eu espalho cenário
A gente é memo assim
Não me tomes por otário
Tamos longe do fim

A minha dama é top
Miúdo ouve a bem
Eu gosto de hip-hop
Ele nem cenário tem

É assim que é
Tipo, ah pois é!
Não sou o Mestre André
Mas ando sempre em pé

É memo, memo isso
Não vales um piço
É só mais um esquisso
Sem fazer o rebuliço

Com meu mano aqui
Deixo a dica para ti
Tás a ver cota?
Tás a ver meu puto?

Props pó pessoal
Esta é a minha gera
Não me leves a mal
Não abrandes, acelera

Boy abanca aqui
Senão vou dar o baza
Cata isto, é só p´ra ti
Não me queiras ir p´ra casa

Oh magano, és meu tropa
O boy que eu mais curto
E pergunto, tás a ver cota?
Tás a ver meu puto?

Fala-me baixinho
Já estás a refilar
Fala-me pianinho
Senão vou-te apagar

O meu povo são meus manos
Meu bro e meus mambos
E quando o piso aquece,
A rima nunca arrefece

Na área eu represento
O resto fica atento
Tás a ver cota?
Tás a ver meu puto?

Paulo D. de Sousa

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Pó na Fita - Os 7 Samurais

O primeiro filme do ano, ao qual sopramos o pó, é um clássico épico de aventura no Japão medieval.

Uma aldeia de camponeses habituada ao desespero e à espoliação, provocadas por um bando de bandidos, resolve enviar emissários em busca de guerreiros que os queiram proteger. Uma equipa de sete distintos samurais é é formada com este propósito. Oscilando entre o humilde heroísmo e a realidade desencantatória da humanidade, o exaltar da filosofia samurai e a mediocridade do camponês, humor bacoco e dramas (in)esperados, esta película vai prendendo a atenção do espectador moderno, culminando num final agridoce.

Apesar de ser um filme já com 61 anos, o mestre Akira Kurosawa tece uma história impar a preto e branco. A coragem e a cobardia ocupam o mesmo espaço na tela, criando um cenário extremamente realista, sem espaço para mortes (heroicamente) lentas ou grandes planos apaixonados. Os atores vestem o kimono e empunham a espada, transmitindo uma simpatia invulgar e uma sensação de naturalidade, sem grandes tiques teatrais, verdadeiros arquétipos da interpretação contemporânea.

Dêem uma oportunidade a filmes idosos! Também merecem ser visionados!


Não tão idoso, do mesmo realizador têm  Ran - Os Senhores da Guerra (1985)


Rafael Nascimento

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Nas Asas da Poesia - Tão inesperada a vida

Tão inesperada a vida.
Como a poder controlar?
Num momento há alegria
Logo a seguir, a chorar.

Não sabemos, de manhã,
O que à noite nos espera
Pois o nosso amanhã
Pode ser belo ou uma fera.

Muitas vezes sem contar
Coisas na vida acontecem
Umas pra nos alegrar
Outras que nos entristecem.

Algumas vezes sorrimos
Próximos de quem nos ama
Nesses momentos sentimos
Que a felicidade chama.

Algumas vezes sofremos
Mas pior do que sofrer
É ver sofrer quem amamos
E nada poder fazer.

São todos os bons momentos
Que temos que aproveitar
Pois, aquando de tormentos,

Esses, força nos vão dar.

Marco Gago

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Nas Asas da Poesia - Não me calo

O som ruidoso do aspirador
Na tua cabeça não vai parar
Enquanto a poluição continuar
Que ninguém me faça calar

Em 2015 lançaram-se foguetes
Foguetinhos, petardos, metralhadoras
Ao destinatário a carta remetes
Contos com premissas assustadoras

Passou-se o Natal e a passagem de ano
Passou-se mais um dia se não me engano
Andou-se pelas ruas com presente em mente
Enfeitou-se o plástico de uma estrela cadente

Juntaram-se pessoas, conheceram-se outras
Bebeu-se o vinho do porto à noite
Rimaram-se versos de líricas soltas
Atracou-se o barco com o mesmo deleite

Imitou-se a lua cheia no lusco-fusco
Irritou-se a vizinha durante o jantar
Repartiram-se as passas no meio do pasto
Condolências a quem me quisera matar

As minhas boas vindas, sol da tarde
Por entre o inverno de frio e geada
Por entre o entrelaçado da saudade
As minhas despedidas ao luar cobarde

No ponto de passagem do desdém
A esperar na fila de atendimento
Quando atendido nem senha tem
Onde está a memória do esquecimento?

Vendem-se artigos em segunda mão
Trocam-se e dão-se prendas pessoais
Sai-se ao café, passeia-se o cão
E os óculos de sol e os vendavais

A poeira levanta, deixo de ver
Espirro confuso, limpo o nariz
Caminho p´ra poder a teia tecer
Enquanto morre gente em Paris

O mundo anda muito agressivo
Descaradamente ocorre homicídio
Aumenta gradualmente o suicídio
Em pensamento cansado e massivo

O mundo está em guerra
Não há novidade nesta notícia
Mas é só lavrar a terra
Como se fosse carícia

Para o mal não prevalecer
Nesta corrida tão desigual
Para que ninguém possa vencer
Pois a vitória é algo banal

Não queiras perder nem queiras ganhar
Se o que interessa é mesmo tentar
Pois para a tua sanidade preservar
Não te podes render ao mal-estar

Vamos ver se agora não lerpas
Enquanto às árvores trepas
Por agora tem-se as suecas
O fim do mundo em cuecas


Paulo D. de Sousa

sábado, 10 de janeiro de 2015

Je suis Charlie

Hoje escrevo sobre algo triste. Um ataque a um jornal, o francês Charlie Hebdo, a morte de 12 pessoas no local do ataque, entre funcionários do jornal e polícias, e mais uma dezena de mortes durante a fuga dos assassinos entre reféns e os próprios. Em suma, um triste e amargo episódio em que a vida humana é dada ao desbarato e em que a democracia é atacada num dos seus pilares base, a liberdade de expressão.

Hoje falo também dos ataques subsequentes a mesquitas e do aproveitamento político e civil para justificar o ataque não só, à liberdade de expressão, como o ataque à vida, à fé e à proveniência ética e cultural de cada um.

Sendo, sem sombra de dúvida, merecedor de nada menos que a nossa condenação e indignação, este ataque tem sido usado como justificação para actos de vandalismo em diversas mesquitas, ataques armados contra a população muçulmana e movimentações políticas no sentido de extirpar cidadãos estrangeiros de solo francês e de fechar as fronteiras do país.

É importante, a meu ver, que se entenda que os cartoonistas que foram alvo deste acto terrorista, foram-no por exercerem o seu direito de expressão, por usarem o humor, o sarcasmo e a ironia, para denunciar e criticar (como a democracia permite), o que na sua opinião vai mal por esse mundo fora.


É igualmente importante, que se entenda que, actos de vingança para com quem possa ter alguma característica cultural, étnica ou de preferência de molhos de salada comum com os referidos terroristas não só não são aceitáveis em democracia, como destroem o direito democrático que pessoas inocentes têm a expressarem a sua , a sua origem cultural e o seu modo de vida, pacificamente, e sem prejudicar a sociedade em que estão inseridas. Actos como estes destroem o direito de livre expressão pelo qual os cartoonistas do Charlie Hebdo morreram. Sendo possivelmente, por vezes, difícil de aceitar no calor dos acontecimentos, tantas vezes embebidos na dor da perda, é ainda importante entender que mesmo os culpados de acções terroristas têm o direito democrático de serem julgados e cumprirem a pena prevista pelas molduras legais do país em que cometam os seus crimes, sob o escrutínio legal das sociedades lesadas pelos seus actos.

É importante não esquecer que o desenvolvimento de que nós europeus temos tanto orgulho não se mede no tamanho dos nosso arranha-céus (onde claramente seríamos batidos pela China e pelos Emirados Árabes Unidos), nem pela cilindrada dos motores dos nossos carros mas sim pelos direitos que somos capazes de proporcionar aos nossos cidadãos e a qualidade de vida que daí advém. Longe da perfeição, a democracia mostra-se melhor que as alternativas existentes até à data, e entre outras razões estão, a meu ver sem qualquer sombra de dúvida, o direito à justiça, o direito à , à expressão cultural/étnica e à livre expressão de opinião.


Por último expresso a minha convicção em como, uma vez findo o acontecimento, urge que a sociedade se debruce sobre o problema do extremismo, religioso ou não, e sobre as suas causas. Que se dediquem meios a uma abordagem compreensiva sobre os problemas relacionados com a integração social, com o sistema educativo, legal e penal, pois acredito que apenas uma sociedade mais integrativa, melhor educada e com mais capacidade de educar para os valores da democracia (que são sobejamente mal entendidos, independentemente da nacionalidade, religião ou proveniência étnica/cultural dos cidadãos) e menos desigual pode prevenir e combater eficazmente este tipo de fenómenos.

Aujourd'hui, je suis Charlie!


Nuno Soares

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

imagem d'escrita

Título – imagem d’escrita
Autor – Roberto Leandro
Editora – Obnósis Editora
Data de edição – 2014

imagem d’escrita” é o terceiro livro de autoria do jovem poeta Algarvio Roberto Leandro. Esta obra apresenta um conceito diferente da norma, fundindo no mesmo espaço poesia e fotografia, e proporcionando ao leitor um experiência rica, simultaneamente de interpretação do poema e de tudo o que este transmite, e da comparação com a perspectiva do fotógrafo, venha esta, na visão do leitor, enriquecer, complementar ou simplesmente acompanhar a palavra escrita do poeta.


Este curioso livro não é, de todo, uma narrativa em poesia, qual Lusíadas; é antes um conjunto de histórias em que cada poema oferece um retrato da realidade, interpretada por Roberto Leandro e pelos seus quatro co-autores, em fotografia, e onde o próprio leitor é convidado a participar, estando o livro munido de um espaço próprio para que o leitor adicione a sua própria interpretação fotográfica dos poemas, tornando o seu livro único e a experiência de leitura, interactiva.

São várias as temáticas abordadas pelos versos do poeta e encontram-se com frequências os poemas de amor e galanteio, as críticas socias, as referências à importância da família e das raízes de cada um, evocações ao império Luso de outrora, a incessante e conturbada procura do “eu”, a admiração pela terra em jeito quase bucólico e a (auto)crítica sagaz de quem olha, vê e não se conformando com a paisagem, expressa o desacordo entrelinhas sobre a forma simples e emotiva do verso.


Não sendo fácil avaliar esta obra no seu conjunto, no que ao conteúdo diz respeito, por cada poema ter, sem dúvida, a sua história e 53 poemas contarem muitas histórias diferentes, é a meu ver, perfeitamente possível avaliar a experiência de leitura/entretenimento que este livro proporciona. Ao ler, ao ver “imagem d’escrita” pude saborear as mensagens escritas pelo poeta e contemplar a interpretação fotográfica que Isabel Brinca, Luísa Correia, Rui Manuel Aires e Vanessa Ideias, fornecem das mesmas e, se casos houve, em que a minha imaginação não me permitiu mais do que ver uma imagem que pouco me ligava ao poema, noutros, tornava-se a meus olhos, quase indistinguível, as palavras da imagem como se fossem um e o mesmo testemunho da mesma realidade.

Uma óptima e interessante experiência de leitura e contemplação visual, fresca, diferente, e que se coroa com a possibilidade de levar o leitor a ser parte integrante da obra, adicionando as suas próprias interpretações fotográficas a alguns dos poemas.

Classificação:




Nuno Soares