domingo, 31 de julho de 2016

Nas Asas da Poesia - O que sou eu?

O que sou eu para aqueles
Com os quais cruzo e cruzei?
Serei importante ou reles?
Isso eu nunca saberei.

Consegui marcar alguém?
Ou não sou mais que indiferente?
Tento ser o melhor que sei
Mas será que é suficiente?

Eu dou minha simpatia,
Minha amizade e amor
Mas não sei se no fim do dia
Isso terá algum valor.

Sempre dei muito de mim,
Talvez mais do que devia,
Será um erro ser assim?
Ou dei-me a quem não merecia?

Disseram-me não ser banal
Que mereço mais do que dou
Mas neste mundo que é real
O que eu sinto é que nada sou.



Marco Gago

sábado, 30 de julho de 2016

Crónica dez!

À décima crónica, o Nuno pede-me periodicidade e um dia certo para publicar. Respondo-lhe que sim, sem hesitar muito, com a primeira coisa que me vem à cabeça.
– Ok, então fica mensal e comprometo-me ao penúltimo dia de cada mês.
Reajo muitas vezes assim. Sem pensar muito. Para o bem e para o mal, muitas das coisas na minha vida aconteceram desta forma. E algumas não foram mal.
O que é paradoxal com outros lados meus, muito meditativos e procrastinadores.
Quando lhe respondo não faço a menor ideia do que vou escrever mas tenho uma espécie de fé que me faz acreditar que o vou fazer.
Ele sugere uma lista imensa de actualidades, esquecendo que não tenho veia jornalística. Não me apetece agarrar nenhuma das suas sugestões. E sei que escrever me está a ficar cada vez mais difícil.
Eu que escrevia a metro (sobretudo para mim própria e utilizando a escrita como uma coisa catártica e de externalização do meu mundo interno) experimento agora dificuldades de alinhar palavras e pensamentos. A estranheza terá a ver com o facto de a escrita agora poder ser lida por outros?

Talvez. Eu gosto de achar que não me levo muito a sério mas talvez me comece a levar um bocadinho a sério. Porque não?
Sério é o gosto que continuo a ter pela leitura e pela escrita, séria é a minha perspectiva que pode ser pouco profunda mas que é verdadeira com quem sou, séria é a humildade de me considerar do meu tamanho (nem maior, nem menor) e sem pretensões.
Interessam-me crescentemente os processos criativos. Preciso disso para não morrer de realidade, alguém me disse.
Sou uma andarilha por contextos e eventos culturais diversos. São formas que encontro de ver o mundo com outros olhos, outros sentidos, outras linguagens e de não ficar fechada na minha forma de pensar. Faz-me sentir e pensar, sentimentos e pensamentos que não teria apenas por minha conta.
Ainda agora vim de assistir a um espetáculo de dança contemporânea no Espaço Alkantara, em Lisboa, com criações a partir de O Cansaço dos Santos de Clara Andermatt (1992) e Um gesto que não passa de uma ameaça, de Sofia Dias & Vítor Roriz (2011) interpretados em duetos por alunos do Programa de Estudo, Pesquisa e Criação Coreográfica do Fórum Dança. Adorei!
São linguagens expressivas fortes, tecnicamente elaboradas e que mexem connosco, fazem pensar... e isso de fazer pensar tem muito que se diga, numa época em que se retrocedem conquistas de civilização e direitos humanos e se erguem muros a muitos propósitos.
Por outro lado fui ganhando consciência de que escrever pode ser um acto criativo. Um acto de grande responsabilidade mas democrático, no sentido em que pode estar ao alcance de qualquer um e não apenas de artistas classificados.
Como dizia Foucault[1] (autor de As Palavras e as Coisas) uma das maiores tarefas do pensamento tem a ver com o problema do sujeito e a sua relação com a escrita.
Qual a minha relação com a escrita? E sobre quê então quero eu escrever?

Confesso que não ligo muito a bem materiais, ando seduzida por inspirações budistas e por filosofias de partilha mas por hoje quero falar de heranças, de legados, também de bens e de propriedades que tomam conta dos proprietários.
Falar não será bem o caso, porque só tenho interrogações.
Interrogo-me sobre qual o legado que quero deixar? E sobre as formas como lido com o legado que recebi?
As coisas e o resto. Sobretudo as coisas pelo valor real e simbólico que têm.
Que passagem de testemunho? Como é que os meus filhos irão entender-se (ou entender) com esse testemunho quando eu não estiver?
Gosto daquela ideia que só morremos quando morre a última pessoa que se lembra de nós.
Será que caí na velha armadilha da busca da eternidade?
Porque é que isto me ocupa?

Habito uma câmara de tortura, em caixa de vidro com projecções de contextos de vida – casa, trabalho, família, amigos, lazer. Um cubo mágico. Nessa caixa faz de conta existem várias torturas.
Às vezes é uma das faces que me esmaga, com realidade ampliada. O estado de não relação com aqueles que amo. Outras vezes é o chão que desaparece e deixa-me suspensa. Tento não respirar para não cair mais, com medo do abismo, da queda livre, do desconhecido. Outras vezes ainda é o espaço entre o tecto e o chão que diminui e me esmaga. Fico sem ar, sem horizonte e sem perspectiva. Sem acção. Outras vezes corre bem. Tenho momentos descontraídos, de alegria e de nutrição.
Mas nunca sei quando a seguir a caixa decide uma tortura diferente. E também não posso saber se aguento a próxima tortura. E perguntarão, porque raio não saio da caixa?
Não saio porque tenho medo. Também tenho medo ficando, mas é um medo conhecido.
Os limites das prisões que construímos laboriosamente são muito reais.

Acreditando que os planos para a vida são desarrumados pela própria vida, na maioria dos caos, sinto necessidade de preparar a velhice, sabendo que é impreparável.
Talvez não seja bem isso.
Talvez seja mais da ordem do que é que eu ainda quero fazer? Como é que sonho outra vez? Como é que engano a solidão?
Não sei muito bem. Estou numa fase da vida que me apetecia estar mais ligeira, mais desprendida e ando às voltas com o que me deixaram e com o que gostaria de deixar.
As coisas evocam memórias, contam histórias e exigem ser cuidadas.
Ainda mais no caso da minha família de origem modesta onde o património foi conseguido com sacrifício e muito trabalho.

Se ganhar perspectiva posso pensar que, em regra, o património subsiste apenas a algumas gerações e depois passa de mão, degrada-se ou transforma-se. São coisas, casas, terras, utensílios…nada por que valha a pena ocupar a vida.
Só que… um dia as casas que habitámos estavam cheias.



Isabel Passarinho


[1] Foucault, Michel (2015) O que é um autor? Lisboa: Editora Passagens

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Pó na Fita - Er Ist Wiedar Da (2015)

Santinho! Tanto pó que este filme de 2015 acumula que o seu título nos faz espirrar! Não é antigo, eu sei, mas traz ao mundo contemporâneo uma figura antiga e incontornável da história mundial - Adolf Hitler!

A premissa é simples, o Hitler antes do seu suicídio em 1945 desperta num parque infantil de Berlim de 2015. A partir deste ponto, observamos a adaptação que esta figura tem com um mundo novo para si, através de uma série de episódios caricatos, destacando as selfies com turistas e a lavagem da farda numa lavandaria de emigrantes . Por outro lado, vemos a resposta do nosso mundo ao tratante louco, que se julga o ditador mais temido da história. Se neste choque de realidades juntarmos o poder dos media, nomeadamente a TV e o Youtube, temos um cocktail explosivo e com resultados enigmáticos!

O filme brinca com este conceito “E se…” , tornando-o num verosímil ensaio sobre a interação do Adolfo com o Homem atual. O actor principal, desconhecido para nós, como que possuído pelo demónio do bigode curto, devolve a humanidade a esta figura, fazendo com que nos esqueçamos (por momentos) da sua dimensão genocida. Desprovido de toda a estrutura nazi, que o deificava, o Hitler é retratado como um político sagaz e conquistador de espíritos.

Para o fim, fica a dúvida e a reflexão: e se uma figura semelhante surgisse no presente, com a capacidade de influenciar opiniões através das redes sociais, reality shows e vídeos virais…


P.S. Se gostam desta temática, sugiro como digestivo o documentário que fala da experiência “ A Terceira Onda” http://www.lessonplanmovie.com/

Rafael Nascimento

domingo, 24 de julho de 2016

Nas Asas da Poesia - O Inútil

Petrifica o cansaço 
Descreve tudo
O Sado não é aço
É só mundo mudo

Nomeando tudo
Semeando nada
Insapiente surdo
Numa estrada

Bosque de anseios
Climas, suposições
Sapos nos ribeiros
Chovem aflições

Preconceitos na palavra
Em casca de carvalho
E as mágoas da cigarra
Coragem de espantalho

Condensa um ecoar
Gravilha d´azevinho
Do céu um coaxar
São fetos d´alto Minho



Paulo D. de Sousa

domingo, 17 de julho de 2016

Nas Asas da Poesia - Campeões!

Um país partiu para Fança
Em forma de selecção
E, com ele, levou a esperança
De um Portugal campeão.

Começámos a jogar
Os 3 jogos empatámos
E, mesmo sem deslumbrar,
O nosso grupo passámos.

Então a Croácia chegou
Para nos ultrapassar
Mas um golo que tardou
Pôs um país a gritar.

Nos penalties contra os polacos
Toda a fé de uma nação
Em homens com nervos de aço
E nas mãos de um guardião.

As meias também passaram
E chegámos à final
E poucos acreditaram
Que este era p’ra Portugal.

Com nervosismo e sofrimento
Mas também com muito querer
Esquecemos todo o lamento
E conseguimos vencer.

Uma semana passou
E ainda custa a acreditar
Que a nossa hora chegou
E é tempo de celebrar.



Marco Gago

terça-feira, 12 de julho de 2016

Campeões!!!

Campeões!!! Somos Campeões!!! Campeões cara…torze! Catorze, não. Vinte e três! Ou 11, mas milhões, mais todos aqueles irmãos na Lusofonia e não só, que nos apoiaram e connosco festejaram do Canadá a Timor, do Brasil ao Japão! Até do espaço vieram felicitações, cortesia do astronauta da NASA, Terry Virts que não ficou indiferente à conquista do Campeonato da Europa de Futebol por Portugal e nos enviou uma foto do nosso país na grande noite! Foi sem dúvida um momento que os Portugueses não irão esquecer tão cedo, por ser o primeiro título internacional da seleção mas também pelo trajeto muito particular que fizemos até termos o caneco na mão. Como bons Portugueses, jamais poderíamos chegar lá sem uma imensa dose de emoção e sofrimento, mas já lá iremos.

Antes de mais, tenho que elogiar o trabalho gigante que Fernando Santos fez com este grupo de trabalho uma equipa habituada a… a… aaaaaa… perder com tranquilidade, como de resto fez no primeiro jogo do apuramento para este europeu contra a poderosa Albânia. A partir daí, só vitórias até chegarmos a França, mas mais do que os resultados admiro o que Fernando Santos foi capaz de fazer e que foi muito mais que ganhar jogos. Construiu uma equipa e mesmo com a contingência (e que não é pequena) de não ter um ponta-de-lança, pôs as ambições naquele caneco de imperial XXL que entregam sem tremoços a quem ganha o Campeonato da Europa de Futebol e fê-lo, com uma mistura de ambição e humildade, muito respeito pelos adversários completamente patente na maneira como adaptava tática, titulares e modo de jogo consoante o adversário, sempre com os pés na terra e acima de tudo consciente das nossa próprias limitações, e isto, é algo que nós Portugueses não estamos habituados.

Campeões da Europa de Futebol
Reconhecer as limitações que temos, individuais e coletivas, e trabalhá-las, tentar mitigá-las, potenciando os nossos pontos fortes foi, na minha opinião a chave para o nosso sucesso. Não ganhámos por sermos melhor que todos os outros, por termos o futebol mais vistoso (ou o “melhor futebol” como lhe chama muita gente) ou mais ofensivo, nem tão pouco por termos o melhor do mundo, pois o pobre Ronaldo encostou às boxes bastante cedo na final. Fomos campeões porque Fernando Santos soube montar a melhor equipa, com uma coesão fantástica, uma resistência física tremenda, com uma profundidade admirável que permitiu uma gestão de plantel inteligentíssima, trocando titulares de jogo para jogo, mantendo performances técnicas, táticas, emocionais e físicas de alto nível com uma regularidade de fazer inveja a qualquer equipa no mundo. Fomos campeões porque Fernando Santos soube construir um espírito de grupo que foi muito além dos 23 jogadores, que contagiou, todo o país e que já não se via desde o saudoso Scolari (esse abençoado pingolim) e porque efetivamente os jogadores souberam mais do que executar ao milímetro, souberam viver este espírito de grupo, esta determinação, esta vontade de superação que não estava presente na era Paulo Bento.

Aliás não seria justo pôr tanto enfase no fantástico trabalho do treinador sem fazer o mesmo com a performance dos jogadores e, verdade seja dita, que cada jogo teve os seus heróis, e que dada a maneira como jogámos, estes foram muitos e de diversos setores, da baliza ao apanha-bolas (o rapaz que marcou o golo na final) mas de todas as contribuições fantásticas que estes 23 deram quero destacar o Cristiano por achar que ele foi essencialíssimo na construção desta conquista.

No PES é mais fácil


Este europeu foi para Cristiano a consagração de uma carreira incrível, melhor do mundo ou não, este ano, o passado ou no próximo, este homem estará sempre entre os melhores jogadores do mundo de todos os tempos, por ser um jogador de um nível que muito poucos atingem. Ronaldo foi neste europeu mais do que a vedeta, mais do que o goleador ou o homem do drible impossível e do remate imparável foi um excelente jogador de equipa, Versátil, incansável, foi um líder para a equipa, uma inspiração, Ronaldo foi sofrimento, frustração, foi alegria, foi entrega, foi superação, merecimento e no fim, no fim foi a consagração. Um pouco o espelho de todo o grupo é certo, mas como sempre com ele, num expoente bastante elevado.

Ainda com 2 joelhos
Viu-se a produção ofensiva, mesmo faltando os golos, contra a Islândia, viu-se a frustração contra a Áustria, a loucura completa contra a Hungria de quem tem que conseguir porque tem que conseguir porque não há maneira nenhuma nem que se torçam todos de que não se vá conseguir, viu-se a cabeça contra a Croácia e uma pontinha de sorte contra a Polónia, viu-se a maturidade e a seriedade contra Gales e viu-se tudo isto e muito mais contra França.

Acima de tudo viu-se uma grande equipa, viram-se incríveis jovens talentos do futebol Português que nos dão muita esperança nos próximos anos e muitas expectativas para os desafios que aí vêm, a Taça das Confederações já em 2017 e o Mundial em 2018. Estes jovens mostram que o nosso futebol tem muito para dar, mostra que as nossas instituições estão de parabéns por darem espaço e tempo de jogo a estes jogadores para se fazerem campeões (e neste capítulo particular tenho que dar os especiais parabéns ao Sporting Clube de Portugal, enquanto clube que mais jogadores formou nesta seleção), porque jogadores como Renato Sanches, João Mário, Raphael Guerreiro, William de Carvalho são sem dúvida o futuro da Seleção Nacional e olhando para como jogaram neste europeu, o futuro é certamente risonho.

Parabéns a todos! Somos Campeões!!! E o resto é palha!


Egídio Desidério


P.S: Não foi nem em uma nem em duas que mandei postas de pescada sobre a qualidade do Éder enquanto jogador de futebol, mas ó Éder, porra, aquilo foi um ganda golo! Já valeu o bilhete de avião! Parabéns! Agora é começar a fazer desses assim… vá… uma vez a cada 18 meses.




domingo, 10 de julho de 2016

Nas Asas da Poesia - Acordar cedo

Acordar cedo
Faz tão bem
Não tem medo
Quem é quem?

Acordar cedo
Arde os olhos
No enredo
Entre folhos.

Acordar cedo
Ai que sono
Indica o dedo
No seu trono.

Acordar cedo
Minha nossa
Não entendo
Ai que coça.




Paulo D. de Sousa

domingo, 3 de julho de 2016

Nas Asas da Poesia - Família

Nada há de mais sagrado
Que a família que temos
Está sempre ao nosso lado
Desde o dia em que nascemos.

Recebemos ao nascer
A maior benção da vida
Nada importa mais que ter
Uma família unida.

Nada há de mais sagrado
Que a família que temos
Está sempre ao nosso lado
À medida que crescemos.

Nem sempre damos valor
Aos que ao nosso lado estão
Mas na alegria e na dor
Sabemos que lá estarão.

Nada há de mais sagrado
Que a família que temos
Pois sabemos que a seu lado
Nunca nós nos perderemos.

Na alegria eles são
Com quem queremos festejar
E na tristeza serão
Quem nos irá levantar.

Nada há de mais sagrado
Que a família que temos
Pois sabemos que a seu lado
Amor sempre encontraremos.

Estejamos longe ou perto,
Em Invernos ou Verões,
Sempre estaremos, é certo,
Dentro dos seus corações.

Nada há de mais sagrado
Que a família que temos
Está sempre ao nosso lado
Até ao dia em que morremos.


Marco Gago