segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Crónicas de uma viagem: Via Algarviana, etapa Funcho - Messines

Ponto de partida: Miradouro do Funcho, Barragem do Funcho
Destino: S. Bartolomeu de Messines
Distância: 13,1 km
Grau de dificuldade: Intermédio 
Factores de dificuldade: Declive, Temperaturas elevadas.

A via Algarviana é um projecto nascido de uma parceria entre a Algarve Wednesday Walkers, grupo local dedicado ao pedestrianismo, e a Almargem, associação de defesa do património cultural e ambiental do Algarve, que consiste numa via pedonal que liga o cabo de São Vicente, em Sagres, o ponto mais ocidental do Algarve, a Castro Marim, no extremo Este desta região, onde o Guadiana delimita a fronteira com Espanha. Ao longo dos seus cerca de 300 km atravessa 11 concelhos algarvios (Alcoutim, Aljezur, Castro Marim, Tavira, S.Brás de Alportel, Loulé, Silves, Monchique, Lagos, Portimão e Vila do Bispo) e proporciona aos seus utilizadores a possibilidade de conhecer parte do património natural e cultural do Algarve, seja entre os montes e vales semi-selvagens do interior ou entre as vilas e aldeias pelas quais a via guia os passos de quem a percorre.
 
Fig 1: Via Algarviana - Trajecto

Curiosamente, descobri por acidente, precisamente durante um passeio a pé, que a via Algarviana passava exactamente no local onde estava naquele momento, o miradouro do Funcho, junto à barragem com o mesmo nome. Assim, e tendo esta curiosidade há já alguns anos, decidi fazer o dito troço que a sinalética me indicava; Silves – S. Bartolomeu de Messines. Estando sensivelmente a meio caminho decidi começar com Messines, vila que ainda não conhecia.
 
Fig 2: Sinalética da via Algarviana no miradouro do Funcho
Parti cedo, já que o Algarve tem fama de ser quente em Agosto, e ainda não eram 9 quando alcancei o miradouro, 3 km após o ponto de partida. O céu azul sem mácula de nuvem acompanhava o horizonte em qualquer direcção e uma brisa fresca, sem ser forte, fazia companhia afastando o calor em demasia. Uma nesga de lago azul contrastando com o verde circundante já se via a Norte. Segui caminho sempre com a albufeira debaixo de olho, acompanhado somente pelos grilos e demais bicharada cantante e por um sol preguiçoso sem grandes pressas em se elevar no céu.
 
Fig 3: Albufeira da barragem do Funcho vista do miradouro
A primeira parte do percurso, neste sentido, é bastante agradável, pois a nossa posição elevada permite-nos uma vista fantástica e os primeiros quilómetros, sendo a descer, dão um aquecimento tão ligeiro, que nem se dá por eles. Em menos de nada já não estamos no topo mas a meio da encosta, contornando as reentrâncias do represado rio Arade sempre pela sua margem Sul e passando a ocasional casa de férias ou um pequeno arvoredo de sobreiros e outras autóctones ou ainda um menos modesto pinhal ou eucaliptal erguido na serra pela vontade dos homens.
 
Fig 4: Albufeira da barragem do Funcho vista da via Algarviana
Sensivelmente metade dos 13 km que distam do miradouro do Funcho a S. Bartolomeu de Messines são passados assim, à beira rio. Pouco depois do Pego Escuro, um local de grande curvatura do rio, a via afasta-se por caminhos mais interiores e antes de se andar muito as 3 casas que constituem o lugar de Vale Bravo estão à vista. Aqui, o declive aumenta, o que neste sentido corresponde a uma subida algo ingreme mas não muito extensa. Ainda em Vale Bravo é possível cruzarmo-nos com cavalos, que deixados a pastar soltos, evitarão viajantes e preferirão manter uma distância de segurança, que no entanto não é grande o suficiente para que não possamos vê-los dar um ar de sua graça, entre a paisagem, que agora é preenchida por suaves colinas, ora verdes ora pardacentas, e pequenos lagos, sem dúvida abastecidos pelo Arade, tão próximo.
 
Fig 5: Paisagem circundante em Vale Bravo, visto da via Algarviana
No topo do monte, “lá na altura”, citando um local gentil o suficiente para confirmar que o caminho à frente dos pés é o que leva a Messines, alcança-se o alcatrão e, na outra face da “altura” encontra-se a primeira localidade digna de nome. Conforme vamos descendo de novo, Pedreiras estende-se do nosso lado direito, acompanhada por campos agrícolas e, aqui e ali, terrenos de pastoreio e pequenos pomares. Mas a via segue e Pedreiras, na qual não chegamos a entrar, rapidamente fica para trás. Messines já cheira e cerca de 2 km, em terreno plano, depois, eis que é alcançada a placa limítrofe da vila de S. Bartolomeu de Messines.
 
Fig 6: Chegada a S. Bartolomeu de Messines
Messines é uma pequena vila, sede de freguesia, pertencente ao concelho de Silves e que possui como principais atractivos a igreja de S. Bartolomeu de Messines e a estátua de homenagem a João de Deus, poeta, pedagogo e filho da terra. Em termos de infra-estruturas a vila conta com uma escola EB 2.3., um quartel de bombeiros, um campo de futebol e um parque urbano.
 
Fig 7: Estátua de João de Deus em S. Bartolomeu de Messines
Em suma, um belíssimo percurso, muito acessível (principalmente no sentido Funcho – Messines) a que após a travessia da beleza natural se segue uma pequena e pacata vila para se visitar e onde recuperar as energias.
 
Fig 8: Um dos muitos perigos da via Algarviana
Os aspectos negativos cingem-se ao ocasional lixo na via, à degradação de algumas infra-estruturas e à inexistência de qualquer sinalização/informação sobre a via em S. Bartolomeu de Messines, o que inviabiliza ou dificulta o viajante incauto de realizar o troço no sentido Messines – Funcho.

Nuno Soares


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