sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Lunchtime Concert - Bartholomew LaFollete & Caroline Palmer

It was on the 19th of February in one of the “Lunchtime Concerts” promoted by the London School of Economics and Political Science (LSE) that cello and piano filled the Shaw library with harmony and talent.

The duo was composed by Bartholomew LaFollete, violoncellist born across the sea, in Philadelphia, USA, but rewarded and highly regarded in Britain where he won the Classical Music Award from The Arts Club’s and Decca Records, in 2013, and the Singapore-born English pianist, Caroline Palmer, piano professor at the Guildhall since 1990 who has a long career as a chamber musician and soloist, counting performances in a hand full of countries both in Europe and America.

Fig 1: Bartholomew LaFollete

In a concert just under a hour, the two musicians guided the audience through the genius work of Nadia Boulanger, full of emotion and contrast, impressed in a fluid and intense interpretation of Gabriel Faure’s Cello Sonata Nº1 in D minor Op.109, and finished with the revolutionary composition work of Francis Poulenc with his Sonata for Cello and Piano, Op.143.

A humble, though of high quality, spectacle, part of the public events promoted by the LSE which includes, beside the concerts, public lectures, discussions and exhibitions on a high diversity of topics.

Highly recommended!

Bartholomew LaFollete website: http://www.bartholomew-lafollette.com/

Rating:





Nuno Soares

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Nas Asas da Poesia - Bateria

Bateria de níquel
Lítio, no batel
De sons de mel
De ritmo no papel

Tem pratos de choque
Tarolas, tambores
Bombo meus senhores
É sensível ao rock

Crash, címbalo, chocalho
Reco-reco, o som do orvalho
Uma árvore, um carvalho
O som sai do seu galho

Rodopio que dura
Que é verdejante
 Bateria que fura
Até qu´ela cante

Sons e energia
Onda e calor
A sinergia
A bateria

Arma de cantor
Dentes de castor
Madeira castanha
Noite estranha

Paulo D. de Sousa


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

1º Aniversário do "Pó na Fita" - O Padrinho


Para festejar uma aniversário cheio de pó, vamos rever uma saga completa! Já devem ter ouvido falar dos filmes do Padrinho… Mas já os viram, de facto? (de fato também serve, ou mesmo pijama).

Pensem na vossa família, na história dos vossos avós, bisavós e tetravós. Pensem em vocês mesmos, quais as vossas ambições, os vossos sonhos, que meios utilizavam para chegar a certos fins, sendo fieis ao passado cultural da vossa família. Sejam sinceros!

As três partes d’ O Padrinho percorrem 3 gerações da família Corleone, desde os primórdios na Sicília pobre até à conquista do sonho americano (não necessariamente por esta ordem cronológica). Este clã sui generis  tem o crime e a violência no seu sangue, habituados a lutar pela vida e a lutar na vida! O seu chefe, o tal Padrinho, dirige as operações, os negócios e até os assuntos mais domésticos, sendo a figura de máxima autoridade e respeito. O Padrinho é o pai que de tudo faz para ver felizes os seus filhos, mas de seu jeito e vontade própria! O Padrinho é também a cabeça de uma obscura e tentacular organização que tudo controla, manobrando favores e vergando vontades em proveito da dita família!

Francis Ford Coppola fundou uma saga de verdadeiro cinema! Desdo o místico primeiro filme, de 1972, passando pelo auge em 1974, até à fase crepuscular de 1990! Selecionou os melhores atores, os ambientes mais adequados e arquitectou as melhores cenas, que verdadeiramente ficaram na memória colectiva da sétima arte e da cultura em geral. Atentem à banda sonora, que dança tão bem com este jogo de vida e morte. Reparem na naturalidade de pai de família de Marlon Brando e na vulnerabilidade velada de Al Pacino. Notem o ódio e a paixão, a fraqueza de espírito e a fibra fleumática, o temor e o poder, em todas as outras figuras que povoam estas três fitas.

Histórias da máfia? Corrupção? Violência? De tudo um pouco, mas O Padrinho é verdadeiramente a história da vivência de uma família e uma lição de vida.

Rafael Nascimento

Nota do Opina: Este mês a rubrica de cinema "Pó na Fita" celebra o seu primeiro aniversário! O nosso agradecimento a todos os que seguem o cinema da fita no Opina e ao Rafael Nascimento por nos trazer tantas pérolas do cinema vintage de há um ano a esta parte!

Para verem outros "Pó na Fita" sigam os links abaixo:

Os 7 samurais:

El espinazo del Diablo:

The French Connection:

Brazil:

Don Jon:

The Secret of Kells:

Pó na Fita:

A Viagem de Chihiro:

The Secret Life of Walter Mitty:

American Hustle:

Captain Phillips:

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Cowspiracy - The Sustainability Secret

O tema não é novo, é até bastante antigo quando se fala de ambiente e da velocidade astronómica destes acontecimentos. Eu já estava ciente da grande maioria dos aspectos referidos neste documentário mas, o mais importante, é o facto de ele existir enquanto tal e de ter a enorme capacidade de chegar a pessoas às quais a informação solta e menos fácil não chega. 

Cowspiracy não é um documentário sensacionalista, como se possa induzir através do tema e da imagem que lhe dá corpo. É um documentário simples, real e direto sobre um problema que nos toca a todos e que merece uma reflexão profunda das mais altas entidades. Problema: As altas entidades não vêm isto como um problema. Logo, temos de ser nós a entende-lo como tal e a soluciona-lo.

Há dois grandes temas nos quais Kip Andersen se foca: A super exploração da terra e a super exploração dos oceanos. Separo-os um do outro porque eles são efetivamente muito distintos quanto às soluções e caminhos que se podem seguir. O primeiro (que dá nome ao documentário) foca-se na quantidade de recursos naturais (mais precisamente água) que são necessários para produzir um hambúrguer de vaca. Água essa que é referida ao longo das nossas vidas como um bem escasso. Daí segue para a quantidade de alimento que é necessário para alimentar as vacas que vamos comer em forma de BigTasty (comida essa que poderia ser diretamente ingerida por nós e render, em termos práticos, muito mais do que uma vaca). Por fim foca-se na tópico de desflorestação, na área que tanto os animais como a sua enorme quantidade de comida a ser cultivada ocupam. Aproveito para referir que a indústria agro-pecuária é a principal causa da abismal desflorestação da Floresta Amazónia. Depois, acrescenta várias informações como o crescimento populacional e a insustentabilidade da imparável pseudo-necessidade de ingestão de carne e derivados.


Relativamente ao segundo tópico, a grande questão prende-se com a super exploração dos oceanos, menos visível e menos acessível, as atrocidades sucedem-se sem qualquer controlo. O ponto que eu achei mais interessante foi aquele em que mencionaram a quantidade de tubarões e outros seres vivos que ficam presos nas redes de pesca. Embora já fosse do meu conhecimento a quantidade de peixes mortos ou aleijados que são devolvidos ao mar pelos mais variados motivos, a frase que mais me chamou a atenção foi, quando foi dito que, se somos contra a sopa de barbatana de tubarão temos de ser contra todo o tipo de peixe pescado por este método: as mesmas redes que pescam o peixe que consumimos são aquelas que pescam os tubarões por engano.

Eu não sou vegetariana, não quero ser extremista neste aspecto pois entendo que comida não se nega. Talvez por ter nascido num país onde quase tudo é considerado comida, desde cães a baratas passando por rãs e abelhas. No entanto considero que a frequência com a qual ingerimos produtos de origem animal é desmedida e que a importância que a nossa cultura gastronómica dá à carne num prato em comparação com os ditos acompanhamentos é completamente depreciativa. Não se vê um menu de um restaurante que diga "Couves flor acompanhadas com arroz de grelos" ou "estufado de lentilhas com tomate", em comparação temos "Lombo de porco assado" sem qualquer referência ao acompanhamento. Com sorte até podemos encontrar um "Lombo de porco assado com castanhas", mas só com sorte. A regra geral é menosprezar os alimentos de origem não-animal, criando uma cultura que gera uma falsa necessidade desses alimentos. Não acredito que de um dia para o outro nos devamos tornar todos vegetarianos, nem acredito que haja essa necessidade, mas precisamos urgentemente de abrir os olhos para os nossos consumos e que benefícios trazem para nós e para o meio ambiente. Isto em prol da sustentabilidade daquilo que temos como garantido e não o é.

Enfim, boa sessão e não me tirem o queijo, isso não... por favor! 

Diana Laires

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Nas Asas na Poesia - Numa busca inconsequente

Numa busca inconsequente
Pelo sentido da vida
Encontro-te, de repente,
Em minha mente perdida.

Eu gostava de saber
Qual é a minha missão
E tento compreender
Pensando com o coração.

Num pensamento profundo
Ouso até imaginar
Que Deus me enviou ao mundo
Apenas para te amar.


Marco Gago

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Jovens Autores - Roberto Leandro

Nascido em Outubro de 1986 em Albufeira, o poeta Roberto Leandro publicou pela primeira vez um livro de poesia em 2011, "Ver no Verso" de seu nome, livro este que marcou a materialização de uma paixão que o acompanha desde cedo. 

Publicou ainda "Poesia em Combustão" em 2012 e "imagem d'escrita" já no final de 2014, onde dá um salto e alia poesia e fotografia na mesma obra. 

Com uma carreira cultural e artística com presença na música, no teatro, no texto humorístico e claro na poesia, Roberto dá a conhecer a sua pessoa e trabalho nesta entrevista para a rubrica Jovens Autores do Opina. 

Fig 1: Roberto Leandro

Opina: - Roberto, boa tarde! Deixa-me agradecer-te por concederes esta entrevista ao Opina e dizer-te que é um grande prazer rever-te!

A primeira pergunta que te quero fazer é: porquê poesia? Fazendo parte de uma geração com hábitos de leitura pouco enraizados e, consequentemente, com poucos hábitos de escrita, não é frequente encontrar quem se dedique a este estilo e que persevere ao ponto de produzir não um, mas três livros de poesia. Porquê escrever poemas?

Roberto: Neste caso acho que se pode dizer que não fui eu que escolhi a poesia, mas sim a poesia que me escolheu. Cresci rodeado de música popular, dos dizeres, provérbios, quadras, lendas, e a minha educação foi sempre acompanhada por essas sabedorias do senso comum. O meu ouvido foi desde muito cedo treinado para aquela melodia muito própria da poesia. Tenho tendência para escrever poesia com uma métrica certa, com rima, não por ser uma pessoa muito formal, mas porque me agrada a musicalidade que a poesia tem. Fascinam-me as palavras, e acho que a poesia é a arte da palavra. Em poesia precisas mais das palavras, porque não tens uma extensão tão grande para definir aquilo que sentes ou pensas. Tens um verso, uma quadra, um poema para dizer uma imensidão de coisas. A poesia é mais repentista, é mais crua e, às vezes, cruel. Comparativamente com a prosa, não é que não tenha ornamentos, que os tem, mas se tu não és verosímil com o que estás a fazer, se não és sincero, mais vale não fazeres nada. A partir do momento em que o poeta abre a capa do seu trabalho, abre corpo e alma e por isso é que para mim não é muito fácil publicar poesia, apesar dos três livros. Essa nudez é a razão pela qual acho que a poesia é crua e pode ser cruel, pois estás a colocar aos olhos de outros aquilo que escreveste para ti, com muito menos temperamento que a prosa, alvo de escrutínios e elações erradas ou demasiado certas. Por outro lado, acho que este é um lado essencial da poesia; ser frontal, crua, para que te dês a conhecer e para que as pessoas a vejam como é: não uma jarra de flores, mas uma realidade cheia de emoções, na qual os ornamentos devem ser postos pelos leitores. 

Opina: Tu lançaste o teu primeiro livro “Ver no Verso” em 2011, mas o teu percurso nas artes da escrita começou muito antes, num ambiente rico em música, com os teus textos para peças teatrais, os sketches humorísticos, etc. És capaz de identificar os momentos do teu caminho que achas fulcrais para teres desenvolvido essa paixão, essa necessidade de desenvolveres este trabalho que hoje desenvolves?

Roberto: Olha, um factor marcante foi o de na minha família haver várias pessoas ligadas à música popular, pessoas com este repentismo, com a facilidade de rimar, de fazer sorrir os outros, de contar uma anedota ou apenas de comunicar de forma interessante um sentimento; portanto lidei sempre com pessoas muito expressivas, apesar de eu, por timidez, não deixar na altura aflorar os meus sentimentos e aquilo que ia indagando. Na primária tive a sorte de poder começar a exprimir o que sentia, porque apareceu a escrita com os seus desafios: os ditados, a leitura expressiva para os colegas, tudo aquilo para mim era uma copa do mundo e tinha que ser perfeito. Claro que, a par da exigência, o acompanhamento e carinho das professoras nessa altura foram fundamentais para estimular a minha criatividade e a minha paixão pela escrita. Ter estado no Conservatório de Música de Albufeira e aí perceber o ritmo da música, o som das notas, a sua voz muito própria, fez com que eu percebesse que o mesmo acontece com as palavras. Ouvia uma canção e pensava: porque é que ele cantou aquela palavra daquela maneira e não doutra? E se alguma palavra era mal pronunciada eu percebia logo, ainda hoje isso me faz confusão. Se ouvir uma palavra cuja métrica, sonoridade ou sentido não são bem aplicados na letra, fico logo preso naquele detalhe e não ouço mais nada... A formação musical acompanhou-me sempre muito. Mais tarde, no secundário, comecei a perceber o que era a poesia e a conhecer os seus autores. Fiz teatro, o que também puxou muito por mim e despertou-me a atenção para textos em diferentes formatos, e ao mesmo tempo para o sentido de comunicar, de chegar com uma mensagem a algum lado.

Opina: O teu trabalho tem algo que, ao primeiro contacto, me salta à vista e que vejo como singular. Tu és um escritor, um poeta, que mais do que escrever, expressa e explora não só emoções mas conceitos. Acho de particular interesse os temas, capas e a maneira, que a meu ver, me parece extremamente cuidada, pensada, refletida mesmo, com que elaboras tudo isto de maneira a proporcionar uma experiência mais completa, mais coesa, quase como uma história que queres contar em verso, mas com a certeza de que quem está a ler entende o que lê não só pela força das palavras mas por todo o enredo cénico/temático que crias à volta dos poemas. Isto é intencional? E se sim o que está por trás desta maneira de comunicar? O que pretendes ao escrever assim?

Roberto: Acaba por ser sempre intencional, apesar da organização dos poemas no livro ser aleatória porque, como te dizia, não sou muito formalista nessas coisas, mas a mensagem que passa é claramente intencional, independentemente da natureza do que se quer passar. O “Ver no Verso” foi um livro de reflexões e de exposição do autor, o “Poesia em Combustão” já foi no sentido de chegar a alguns alvos mais afastados da poesia, a públicos distintos. Tens alguns poemas que não te farão sentido nenhum, mas que para alguém com 15, 16 anos fazem todo o sentido, assim como outros para nós ainda não estão no tempo, ainda não estão maturados, mas para alguém da geração dos nossos país ou dos nossos avós, que têm uma ligação mais forte com a poesia erudita ou com a poesia popular, fazem todo o sentido, encaixam como uma luva. Aquilo que eu pretendo é que as pessoas que não têm por hábito ler poesia descubram que a poesia é simples e multifacetada, que há sempre um poema que nos agrada, mesmo que seja um entre mil. E nesse detalhe se sintam confortáveis e reconfortadas na poesia. Tento que com os meus poemas e as temáticas abordadas neles as pessoas se revejam e tenham nesse discurso a sua própria voz. Hoje as pessoas não se expressam, não falam, não criticam.

"Tento que com os meus poemas e as temáticas abordadas neles as pessoas se revejam e tenham nesse discurso a sua própria voz."

Opina: Os teus três livros, apesar de terem sido publicados num relativamente curto espaço de tempo, trazem ao leitor, para além de três conceitos diferentes, três fases distintas da tua vida e consequentemente três Robertos em diferentes estados de maturidade, enquanto autor e enquanto pessoa. Como descreverias as tuas três obras e que pontos enaltecerias em cada uma delas? E já agora, a mudar algo, o que mudarias?
  
Roberto: No caso do “Ver no Verso” e do “Poesia em Combustão”, que são livros mais próximos, os poemas foram escritos nos meus 18, 19 anos, numa fase de mudança de região, acabado de chegar a Lisboa, a confrontar-me com a fase universitária e com uma realidade metropolitana, foi quase um choque de civilizações. Claro que tenho poemas publicados pelos quais nunca tive grande empatia, porque ou retratam um período difícil da minha vida ou são simplesmente temáticas sobre as quais eu gostava de não ter que falar, como algumas problemáticas sociais que nos pesam e entristecem. O primeiro livro tem poemas mais seleccionados, mais vocacionados para quem gosta de ler poesia, para quem escreve poesia ou para quem, de uma forma geral, gosta de pensar na vida, para quem sabe que, para todas as coisas que fazemos e dizemos existe um reverso e é preciso ver para além daquilo que é aparente. O “Poesia em Combustão” é um livro sobre as emoções, sobre o que sentimos, desde o nosso lume brando até às nossas explosões, e tenta acompanhar os 8 e os 80, em termos etários. Em balanço, reconheço que poderia ter apostado num livro mais preciosista, mais bonito, com poemas mais seleccionados; mas o livro não pode agradar a gregos e a troianos…E apesar de alguns leitores acharem alguns poemas mesquinhos, infantis, alguns até preocupações fúteis sobre a vida, temos que ir aos que estão um passo atrás de nós para que esses possam avançar, e temos que tentar estar um passo à frente para chegar aos que estão mais longe, para que esses possam vir ter connosco e ensinar-nos. O livro funciona um bocadinho como uma corrida de estafetas, como uma passagem de testemunho, recebemos alguma coisa de quem está atrás de nós mas não vamos ficar com ela, vamos passá-la a alguém. O “imagem d’escrita” é algo diferente, é uma vontade de trazer pela mão várias pessoas, mostrar, mais do que o meu trabalho, o trabalho de outros, porque reparei que as pessoas não só têm dificuldade em expressar os seus sentimentos, quando lêem, quando interpretam ou quando sentem alguma coisa, como também quem descreve, produz ou fotografa, sente muitas vezes dificuldade em mostrar aquilo que faz. Tentei juntar um grupo de pessoas que têm talento mas são amadoras, no sentido de gostarem daquilo que fazem e de porem o capital cultural à frente do capital financeiro. Aqui, os poemas não foram escolhidos por mim, mas pelos fotógrafos, e a palavra de ordem é liberdade, liberdade artística para cada um, fotógrafos, designer, editora, declamador, escolherem o que e como vão fazer e, pelo exercício dessa liberdade, dão a sua identidade ao livro. Penso que isso tem feito deste livro uma plataforma de emoções. As pessoas não têm ficado indiferentes ao livro, porque se sente em cada página que há emoção, e era isso que eu queria atingir, mostrar que todas as artes e personalidades se combinam.

Opina: Este teu “imagem d’escrita” e a mudança de abordagem que ele representa, mesclando poesia e fotografia, poderá ser uma transição para algo diferente, alguma mudança de estilo no teu trabalho?

Roberto: A ideia é, futuramente, trabalhar a poesia pela canção, continuar a colaborar com o Pedro Rodrigues, porque acho que a poesia tem que ter sempre alguma coisa que depois lhe dê asas, não pode só ficar num livro. A música dá-lhe muita força, dá-lhe uma voz muito própria. Não abandono a possibilidade de voltar a trabalhar com fotografia, mas só se for convidado para isso, porque para mim os projectos têm que ser sempre diferentes, inovadores.

"...pretendo que as pessoas que não têm por hábito ler poesia descubram que a poesia é simples e multifacetada, que há sempre um poema que nos agrada, mesmo que seja um entre mil. E nesse detalhe se sintam confortáveis e reconfortadas na poesia."
   
Opina: Quais os feedbacks que recebeste de cada um dos teus livros? Houve alguma das obras que tenha tido mais impacto que as outras?

Roberto: Tirando os que foram queimados ou usados como calços para mesas e estantes, ou até mesmo como base para copos, utilização em que o “Ver no Verso” se destaca por ser pequenino e de capa dura, até estiveram bem, os livritos… O “Ver no Verso”, por ser o primeiro livro teve muito impacto, foi a surpresa e também a qualidade do livro em si, a capa dura, o formato, os poemas seleccionados… O segundo livro, o grande triunfo que teve foi divulgar as canções, pois já tem vários poemas musicados, teve o mérito de divulgar o trabalho da capa, de uma designer amiga, e resultou muito bem, teve grande impacto no público, em nichos específicos. Este último livro é muito recente, saiu há dois meses, ainda estamos a apreciar o impacto no público, mas já vendeu 40% da tiragem, e as coisas estão a correr bem tendo em conta que somos pequenos e insignificantes no mercado nacional.

Opina: Há pouco falámos do quão cedo se enraizou em ti a poesia e da influência da música na tua obra, que influências tens em cada uma destas artes que contribuíram para a maneira como hoje trabalhas ambos os temas?

Roberto: Fui muito influenciado, quer em termos melódicos quer em termos de texto escrito, pelos fados da Amália Rodrigues, pelo David Mourão Ferreira, Alexandre O’Neill, Fernando Pessoa, principalmente o ortónimo e, a minha veia mais popular, mais vernácula, vem do António Gedeão e do António Aleixo. Tenho ainda muitas influências da música popular lusófona, como o cante alentejano, as cantigas do campo e a bossa nova.

Fig 2: O mais recente livro de Roberto Leandro, lançado em Outubro de 2014

Opina: Roberto é difícil publicar um livro de poesia em Portugal? Para além da parte da escrita, claro. Os teus três livros tiveram diferentes editoras, World Art Friends, Chiado e Obnósis. Até que ponto é o mundo editorial recetivo para um jovem poeta. Sentes-te e sentiste-te apoiado pelas editoras com quem trabalhaste?

Roberto: Bem, na primeira não me senti minimamente apoiado e por isso é que depois mudei. Quando tu tens um livro em que não decides a tiragem, não decides a capa, não decides a quantidade de poemas nem o preço de venda e tens uma margem de 10%, as coisas ficam complicadas. Para além da margem de lucro reduzidíssima, nunca fizeram as correcções que pedi em futuras edições, foi sempre um diálogo muito frio, muito abandalhado e revelador de muita falta de experiência da parte de quem deveria elucidar-me e acompanhar-me. Depois trabalhei com a Chiado Editora, mais conhecida. Queria uma editora que estivesse mais perto de mim (Lisboa), para acompanhar melhor o processo. Em todo o caso, vi que não conseguiam suprir todas as necessidades que eu tinha a nível de divulgação, mas foi já um incremento porque o livro ficou disponível on-line, ficou disponível em várias livrarias de todo o país e isso facilitou o acesso dos meus leitores àquela obra. Respondendo à primeira pergunta, é sempre fácil publicar se tiveres dinheiro para gastar ou se encontrares uma editora pequena que publique tudo, e dessas há dúzias, aliás esse é um grande problema actualmente. No caso do “imagem d’escrita”, tinha sido criada muito recentemente a Obnósis, uma editora de pessoas com quem trabalho e por quem tenho grande afecto, e sei que são pessoas genuinamente interessadas em publicar livros com qualidade, de autores que não teriam grande possibilidade de publicar por questões financeiras ou por falta de “status social”. Poderá bem ser uma parceria para o futuro, a julgar pelo excelente entendimento até agora.

Opina: E por falar em futuro, que projectos podem os leitores esperar, da tua pessoa?

Roberto: O melhor é irem acompanhando e estarem atentos. Nos próximos tempos vou continuar a acompanhar os músicos com quem trabalho, mas procurarei estar sempre envolvido em vários projectos, seja na organização de eventos, seja noutras escritas, revisões, crónicas, etc. Tenho uma necessidade intrínseca de desenvolver este tipo de trabalho. Mas posso adiantar que, possivelmente, o próximo livro que sair, que não há-de ser para já, não será em poesia.

Opina: E para terminarmos, qual é a melhor maneira de um leitor interessado acompanhar os teus projectos?

Roberto: Através da página do Facebook do “imagem d’escrita” https://www.facebook.com/pages/Imagem-descrita/371985962956515?ref=ts&fref=ts, da minha página pessoal, ou através da própria editora, a Obnósis http://www.obnosiseditora.pt/index.php, onde também podem adquirir o livro.

por Nuno Soares



P.S: A próxima apresentação do "imagem d'escrita" será na FNAC de Albufeira a 21 de Março! Não percam!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O problema é que somos todos Charlie

"Posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até a morte o direito de o dizeres."

Evelyn Hall[1]

Ainda o mundo estava a ressacar das promessas e novas resoluções para o ano de 2015, quando subitamente no dia 11 de Janeiro, acorda com a notícia do macabro massacre ao escritório do semanário Charlie Hebdo.

Como aconteceu com tantas outras mortes, Charlie Hebdo (personagem colectiva) teve muito mais apoio e fãs aquando da sua morte do que em vida. Isto porque o atentado ao Charlie Hebdo, mais do que as doze pessoas que faleceram (não querendo de todo menosprezar o seu valor) representou um atentado aos Direitos Universais do Homem, mais especificamente o direito à vida e o direito à liberdade de expressão, e não menos importante um atentado aos valores do mundo ocidental.

O mundo uniu-se e a uma só voz ouviu-se e declarou-se “Je suis Charlie”, com o povo também os líderes mundiais uniram-se em Paris na marcha pela LIBERDADE e contra a BARBÁRIE, no entanto, afastados do povo como é apanágio desses seres. Ver a Angela Merkel (principal terrorista financeira dos povos europeus) e Benjamin Netanyahu (Primeiro-Ministro de Israel) na marcha pela Liberdade e contra a Barbárie, é como ver o Pinto da Costa e o Paulo Portas numa marcha contra a corrupção, ou como ver o Hitler a defender o povo Judeu.

Através da pretensa luta pela Liberdade de Expressão, nos dias consequentes multiplicaram-se opiniões concordantes e discordantes, e outras ainda por descodificar, assim como eu o faço para poder exprimir os meus pensamentos.


Então qual é o problema de sermos todos Charlie?

O problema é que as pessoas quando se auto-intitulam de Charlie e defendem a LIBERDADE DE EXPRESSÃO são demasiado literais, isto porque esquecem-se (quiçá por uma deficiente alimentação) que a Liberdade de Expressão é um processo que envolve não só o locutor mas também o interlocutor. Ou seja, eu posso dizer o que quero e bem entender, já o outro quando diz algo contrário às minhas crenças, convicções ou opiniões… ai o ca…., filho da …. e por aí fora…

Somos todos iguais mas também e felizmente todos diferentes e únicos. Este é um problema de estrutura psicológica individual, onde cada vez mais devido à nossa (des)educação e (des)informação o abismo entre o self real (o que realmente somos) e o self ideal (o que queremos ser) é cada vez maior e faz com que esqueçamos (uma vez mais) que não existem verdades absolutas, nem tão pouco uma só verdade. Só conseguiremos diminuir esse abismo com a consciencialização e acima de tudo com a aceitação das limitações de sermos humanos, de sermos falíveis, de sermos imperfeitos. Esse trabalho individual levará a que tenhamos a capacidade de separar e superar o facto de que o facto de alguém satirizar algo que gostamos, defendemos e/ou acreditamos não tem necessariamente de estar a atacar-nos.

O atentado ao Charlie Hebdo foi hediondo e imperdoável, mas aproveitaremos para com isto aprender uma lição, para mudarmo-nos a nós próprios e assim o mundo.

NÃO SEJAMOS CHARLIE E KOUACHI (irmãos responsáveis pelo atentado) AO MESMO TEMPO!


Fábio Andrade



[1] http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/44/a-falsa-citacao-de-voltaire-investigacao-afirma-que-a-300467-1.asp

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Rubrica Jovens Autores

Depois de em 2014 ter trazido ao Opina a escritora de literatura fantástica Iris Palmeirim de Alfarra e o romancista Miguel Brito de Oliveira a rubrica "Jovens Autores" regressará em breve com o poeta Albufeirense Roberto Leandro, autor do recentíssimo "imagem d'escrita". 

Fig 1: Roberto Leandro
Mantenham-se atentos!

Opina