quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Heróis à moda do Alentejo

Titulo – Heróis à moda do Alentejo
Autor – Vários Autores
Editora – Lugar da Palavra
Data de edição – Junho de 2010

Os heróis convocados por Zei Aranha e Jaquim Zorro responderam ao apelo de engradecer a sua terra e cultura e mostraram-se aos seus conterrâneos, ao resto do país e ao mundo, em quase uma dezena de contos escritos pela mão de uns outros tantos autores.

Esta coleção coordenada por João Carlos Brito traz ao leitor um conceito extremamente interessante. Um livro por região, um livro de humor, composto por vários contos, escritos por vários autores, que têm como desafio trazer, nestes moldes, as expressões linguísticas e as marcas culturais da região sobre a qual estão a escrever.

Este “Heróis à moda do Alentejo” não é excepção a nada do que se pretende e com muito mérito dos autores assegura gargalhadas, façanhas diversas, mangação com fartura e até contém um dicionário parrascana que instrui o mais destrambelhado dos leitores, nos termos e expressões usadas por esse Alentejo fora e usados de maneira copiosa nesta obra para que nos recordemos de uns e aprendamos outros.


Entre os contadores de histórias que nos presenteiam com os seus heróis contam-se um dos músicos do grupo musical “Adiafa”, João Paulo, o escritor Luís Miguel Ricardo (coordenador desta obra), autor de “Ritos do Desespero” e “Operação Dominó”, Manuela Pina, Marco Maurício, Paulo Godinho, Maria Morais, Antónia Luísa Silva, Afonso Barroso e Carlos Viegas.

Uma obra altamente recomendada para alentejanos, e não só, para quem gosta de livros bem-dispostos, dos falares e das gentes alentejanas ou pura e simplesmente de contos daqueles bons de se contarem à lareira.

Classificação:





Nuno Soares



terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Pó na Fita - American Hustle

A história de um bom, apaixonado e gordito “vilão”. Uma trama de enganos, arrependimentos e e reviravoltas!

O filme retrata a aventura de um medíocre burlão, que vivia uma vida pacata com os seus esquemas perfeitos, e se vê embrulhado numa armadilha para o coração (o centro desta história) e a mente. Nesta teia de mentiras e mascarados, jogam polícias do FBI, sedutoras e inteligentes mulheres e políticos mais ou menos bem intencionados. Todos querem alguma coisa, dançando com diferentes pares diferentes danças. Todos ganham e todos perdem (como a vida, ao fim e ao cabo).

Os atores são brilhantes (vejam-se as quatro nomeações para óscares), vivem as personagens, vestem literalmente as suas peles, os seus tiques, caprichos e vincadas personalidades. Christian Bale e a sua barriga; Amy Adams e os seus sotaques; Bradley Cooper e os seus caracóis; Jennifer Lawrence e as suas … manias; Jeremy Renner e a sua convicção. David O. Russel, o realizador de serviço (também nomeado), dá-nos cenas singulares e cadencia toda esta coreografia para nos entregar um filme sem falhas, belo e humano.


American Hustle mostra o coração do bandido, aproxima-nos desta vil personagem, a tal ponto de se estabelecer uma identificação.


Rafael Nascimento

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Homenagem póstuma – Carolina Tendon

Este espaço criei-o por achar que fazia falta um lugar, ainda que virtual, onde a cultura fosse acessível e gratuita para as pessoas. Onde se promovesse o contacto com o que se faz por aí, pelo mundo, para dar voz e tempo de antena aos que, por estarem a começar uma carreira de paixão, em algo que lhe diz muito ao coração, tem tanto de talento, garra e vontade como, por vezes, dificuldades de divulgação, para ajudar…

Hoje, a história é diferente. Hoje trago-vos uma artista. Dançava a Carolina e, aqui entre nós, não dançava mesmo nada mal. Dançava com o coração, dançava com as emoções, dançava com as expressões de quem vive o que dança e com a garra e determinação de quem ama o que faz. Dançava com alegria e, Deus, aquela miúda tinha alegria. Não era a melhor do mundo, não era um Ronaldo, não teve tempo, possivelmente nem tão pouco era coisa que a preocupasse, mas para aqueles que tiveram a possibilidade de a conhecer, ainda que brevemente, como eu, nas encruzilhadas da vida, ficará para sempre como uma fonte de alegria e boa disposição, senão a melhor do mundo, uma das melhores sem sombra de dúvida.

Hoje, agradeço o ter conhecido uma pessoa que podia ter “alegria” como nome do meio, um exemplo de atitude perante a vida, uma jovem mulher com garra, com talento, com a jovialidade de quem ama o que faz e o que faz é viver, para sempre, nos corações de quem com ela se cruzou.

Para que quem não conheceu a Carolina possa conhecer, pelo menos, o seu trabalho, partilho alguns vídeos por ela publicados, para que se veja, da maneira que hoje se pode ver, a Artista que era a Carolina Tendon.



Tudo o resto fica no coração.

Até já Carolina,


Nuno Soares

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Pó na Fita - Captain Phillips


Quais Piratas das Caraíbas! Os piratas magriços da Somália é que são os verdadeiros heróis/vilões.

Este thriller em alto mar apresenta-nos uma constante dicotomia entre dois mundos e os resultados desse choque civilizacional. De um lado temos o ocidente, encarnado nos grandes cargeiros,  robustos capitães e contramestres e na toda poderosa marinha dos EUA, do outro, um bando de somalis magrinhos, armados de metralhadoras e pistolas, lanchas de pesca e uma vontade resoluta e desesperada.

Estas duas realidades enfrentam-se e interligam-se numa trama frenética e bem captada pelas câmaras de Paul Greengrass. Tom Hanks oferece-nos um capitão Phillips com quem criamos logo uma afinidade, um homem seguro, dedicado ao seu trabalho e tripulação, resistente ao stress e senhor de um grande instinto de sobrevivência. Barkhad Abdi e seus compinchas encarnam os piratas de uma forma altamente realista, demonstrando as várias facetas desta comunidade de simples pescadores que se viu obrigada a dedicar-se à extorsão.


Captain Phillips é uma reflexão sobre o mundo moderno e uma aventura por si só. Façam o vosso julgamento.


Rafael Nascimento

Mensagem do Opina: "Pó na Fita" é uma rubrica de cinema em que Rafael Nascimento nos trará preciosidades antigas e recentes da 7ª arte! Sigam a fita no Opina!

Opina

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Jovens Autores - Iris Palmeirim de Alfarra

Nascida em Braga a 30 de Abril de 1993, Iris Palmeirim de Alfarra publicou em 2011, aos 18 anos, a sua primeira obra, Shinegow, primeiro volume de uma saga com o mesmo nome, lançada pela Chiado Editora.

Hoje, aos 20 anos, Iris estuda Biologia Marinha na Universidade do Algarve e aceitou o convite do Opina para partilhar connosco algumas das suas vivências e opiniões sobre o que é ser uma jovem escritora em Portugal.
Fig 1: Iris e a capa de Shinegow, desenhada por si
Opina: Iris em primeiro lugar deixa-me agradecer-te por teres aceite o convite do Opina e por estares hoje connosco nesta entrevista. 

A primeira pergunta que gostava de te colocar tem a ver com o teres lançado um livro tão cedo. Não sendo inédito, não é frequente ver-se jovens de 18 anos escreverem e lançarem obras literárias. Foi difícil lançar Shinegow?

Iris: Obrigado também pela oportunidade de divulgação. Na verdade não foi difícil. Eu comecei por fazer uma pesquisa na internet sobre publicações de livros e dei com a página do IGAC (Inspecção Geral das Actividades Culturais) na qual a obra tem de ser registada. A partir daí foi enviar o livro para várias editoras, a Chiado Editora aceitou a publicação e eu, claro, fiquei em pulgas e aceitei a oferta. O processo demorou-me cerca de dois meses, a parte da procura, do registo e do envio, e cerca de um ano, no total, a contar com a correção, a parte mais morosa e difícil.

"Uma coisa que descobri em relação à escrita... ...é que com uma folha em branco e uma caneta nós temos o poder de fazer tudo..."

Opina: Iris como e porquê começa uma jovem, aparentemente, com interesses tão díspares, afinal estudas na área das ciências naturais, a escrever literatura juvenil fantástica, e tão cedo? Quando é que te deu esse “click”?

Iris: Bem essa história é uma que normalmente não se deve contar aos mais novos <risos>. Eu sempre fui uma rapariga muito distraída nas aulas, e algures no meu nono ano estava numa aula muito aborrecida em que já não sabia o que havia de fazer e, com mais duas amigas, começamos com a ideia de escrever uma história. E porquê uma história? Uma coisa que descobri em relação à escrita, porque antes não gostava de escrever, é que com uma folha em branco e uma caneta nós temos o poder de fazer tudo, podemos criar, temos as leis da natureza na nossa mão. E eu achei aquilo tão divertido que comecei a escrever com as minhas amigas e trocávamos folhas, cada uma com o seu pedacinho de história e era uma paródia. Às tantas comecei a levar aquilo mesmo a sério e a passar tudo a computador, mas o “click”, o começo de tudo, foi mesmo na tal aula muito aborrecida.

Opina: E em termos de referências Iris? Onde foste e vais buscar a tua inspiração para escrever? O que te motiva? Há bastantes autores que referem a sua vivência pessoal em diferentes cenários culturais como um factor de enriquecimento dos seus imaginários e obras. Achas que o facto de teres vivido em cidades tão diferentes social e culturalmente como Braga, Paris, Lisboa e Faro tem alguma influência na maneira como escreves ou achas indiferente para a tua identidade como escritora?

Iris: Acho que o meu percurso é bastante relevante para a minha formação enquanto escritora pois mesmo falando de inspiração eu vou buscar muita coisa a acontecimentos da minha vida, a coisas que vi, que vivi, a lembranças, mas é difícil dizer o que seria diferente em mim ou na minha maneira de escrever se as coisas tivessem sido diferentes, não faço mesmo ideia. Falando do que me motiva, as minhas inspirações são várias. Começou por ser a amizade que tinha com uma colega que escrevia comigo mas acima de tudo e, com o tempo, o poder transmitir uma série de mensagens sobre coisas que vivenciei e que acho importante passar às pessoas tornou-se a principal razão e o que mais motiva para continuar a escrever. 

"... poder transmitir uma série de mensagens sobre coisas que vivenciei e que acho importante passar às pessoas tornou-se a principal razão e o que mais motiva para continuar a escrever."

Opina: Iris falando de Shinegow, a tua obra publicada, passaram quase três anos desde a data da publicação, com muitas experiências de divulgação pelo meio, idas a escolas, entrevistas, apresentação do livro na Fnac, participação no Ignite Algarve. Que balanço fazes deste período e que mudanças trouxe à tua vida a publicação de Shinegow?

Iris: Esse período foi muito importante para me subir a auto-estima. Eu por ser muito distraída, nunca fui uma excelente aluna, e tinha a auto-estima um bocado baixa. Para além disso a experiência foi muito enriquecedora e engraçada para mim. Eu quando lancei o livro fui a cerca de dez, onze escolas, entre Braga, Lisboa e o Algarve e o que mais gostei, o momento que mais piada achei, sendo sempre interessante e divertido ir falar com miúdos, foi quando cheguei a uma escola, a um anfiteatro, creio eu para falar com três turmas do 5º ano e todos os miúdos terem uns papeizinhos e eu reparar que eles tinham feito um trabalho de pesquisa sobre mim, entrevistas que me tinham feito, o meu percurso, fotografias e um rapaz perguntar-me “A sua comida favorita é lasanha não é?” e eu ficar com um ar “Como é que ele sabe isto?” e realmente ter que admitir que lasanha é uma das minhas comidas preferidas <risos>. E estes momentos também me fazem continuar a escrever, claro. 

Opina: E qual o feedback que tens tido dos teus leitores? Sentes que aquilo que queres passar é percepcionado por quem lê Shinegow?

Iris: Sinto que normalmente a coisa passa. Apesar de que, por exemplo, nestes momentos de divulgação muitos dos miúdos ainda não tinham lido o livro, uns sim, outros ainda não, mas sem saber com certeza se eles perceberam bem as mensagens que quero transmitir acredito que, mais cedo ou mais tarde, vão pensar no assunto e que inconscientemente a mensagem é transmitida. Em termos de feed-back, até agora, só tenho tido bons feed-backs, os mais jovens normalmente dizem que gostam muito, alguns leitores mais velhos já me disseram que às vezes a questão dos nomes é algo confusa, por haver mudanças de nomes e que isso implicava que se voltasse atrás para ver quem é quem e isso é algo que mudará no segundo livro, adiantando um bocadinho, será um livro de muita mudança, Shinegow dará uma grande volta.

Opina: Uma coisa que te queria perguntar antes de voltarmos ao segundo livro tem a ver com o facto de hoje estares a meio de uma licenciatura que nada tem a ver com literatura ou com o conteúdo do que escreves, no domínio do fantástico, e por isso mesmo pergunto-te, como é conciliar a escrita com as obrigações académicas, familiares e os outros interesses para além da escola, da escrita e da família?

Iris: Não é fácil. Especialmente em épocas de exames é quase impossível. Eu tento manter uma rotina de escrever um bocadinho todas as noites mas nem sempre consigo. Às vezes estou cansada, outras apetece-me fazer outras coisas, mas dentro do possível consigo manter um determinado ritmo e hoje a coisa está encaminhada. 

Opina: 3 anos após a publicação e com uma tiragem de 550 exemplares, dos quais restam certamente poucos ou nenhum, é expectável para breve uma segunda edição de Shinegow? Se sim, haverá mudanças? Quais?

Iris: Eu espero bem que sim. Pelo menos, vou lutar para que isso aconteça, apesar de achar que, neste momento, é essencial para divulgar mais a obra a publicação do segundo volume, é a chave fundamental para aumentar o alcance de Shinegow. Ainda assim, se houvesse a oportunidade de amanhã lançar uma segunda edição haveria pequenas coisas que escaparam a cinco revisões do livro e que mudaria, pequenos erros ocasionais, e talvez pôr sempre os dois nomes das personagens, um entre parêntesis, para tornar mais fácil a leitura. Há ainda um erro, completamente ao lado, que me vieram dizer, que é o facto de eu falar do euromilhões numa rapariga que vive na América <risos>. Essas pequenas coisas. Acho que alterações de fundo não são de esperar. 

"Não tenho uma data definida mas tenciono acabar este ano e mais tardar em Dezembro já estar a lançar o livro." 

Opina: E para quando a aguardada continuação? Tens alguma data idealizada?

Iris: Não tenho uma data definida mas tenciono acabar este ano e mais tardar em Dezembro já estar a lançar o livro. Ainda há muito a desenvolver mas estou já a meio do livro, que será maior que o último parece-me, e estou confiante que, correcção incluída, é algo para estar pronto, no máximo, até ao fim de 2014.

Opina: E planos para o futuro, para além de Shinegow?

Iris: Eu por enquanto estou mais focada em acabar a saga Shinegow mas já me surgiram algumas ideias e escrevi, há um par de anos, um pequeno texto, mais metafórico, sobre o aprisionamento que eu sinto nas aulas e que pretendo publicar. A ideia é lançar uma crítica ao nosso ambiente de escola de maneira simples de modo a que seja acessível ao público mais jovem. Nesta fase o que estou há já algum tempo a procurar é um ilustrador que trabalhe a parte gráfica do texto.

Opina: Como e ondem podem os leitores saber notícias e ir acompanhando Shinegow e o teu percurso literário?

Iris: O facebook é a melhor plataforma para seguirem. O Shinegow tem uma página própria alojada no link https://www.facebook.com/Shinegow 

por Nuno Soares

Mensagem do Opina: O Opina deseja agradecer à Iris Palmeirim de Alfarra por nos ter concedido esta entrevista, a primeira da rubrica Jovens Autores, aos que nos fizeram chegar sugestões e questões a colocar, e deixamos o desafio a leitores e autores que queriam ver determinado trabalho/escritor evidenciado nesta rubrica a entrarem em contacto com o Opina. A todos um muito obrigado!
Opina