terça-feira, 31 de maio de 2016

Capitão América - Guerra Civil

Captain America: Civil War é o mais recente filme produzido pela Marvel Studios, inspirado pelo universo de banda desenhada da mesma companhia onde super-heróis em fatos de licra ou aço (parecem ser os dois melhores materiais para estimular super-poderes) entretêm a sua existência a salvar o mundo de super-vilões, inteligências artificiais, invasões alienígenas e organizações terroristas. 



A narrativa surge como conclusão da trilogia formada por Captain America: The First Avenger (2011) e Captain America: Winter Soldier (2014) e no seguimento da linha temporal de Avengers: Age of Ultron (2015) colocando o espectador numa missão dos avengers (uma organização de super-heróis da qual fazem parte, entre outros, o Capitão América e o Homem de Ferro) em Lagos (não, não é no Algarve), Nigéria, na qual impedem o furto de uma arma biológica por um grupo terrorista liderado por Crossbones um dos vilões do universo Capitão América. Infelizmente, e como é frequente, a missão dos avengers não ocorre sem danos colaterais e quando Crossbones, derrotado, se faz explodir com o intuito de, num derradeiro acto de vingança, levar consigo o Capitão, este acaba por ser salvo pelos poderes telecinéticos da sua companheira Scarlet Witch que projecta a bomba no ar, para longe do Capitão, destruindo acidentalmente parte de um edifício adjacente, causando a morte das pessoas que lá se encontravam.

Este é o mote para o todo o enredo que se segue e para a “guerra civil” entre os avengers, que resulta da pressão das nações unidas para que os avengers passem a ser um recurso ao comando desse organismo e das suas agendas, posição apoiada por Tony Stark, o Homem de Ferro, contra o direito de escolha de como e onde actuar, segundo os seus princípios e valores ao invés de andar a mando de outrem, posição defendida por Steve Rogers, o Capitão América.

O conflito de opiniões destes dois líderes dentro do grupo e a dupla dicotomia entre Stark, um génio e magnata da tecnologia e homem movido a emoções, maioritariamente conflituosas, e um ego tão grande e redondo como o mundo e Rogers, um homem simples, um soldado mais que um capitão, que toma as suas decisões baseado numa lógica simples de fidelidade no que acredita, torna o confronto interessante, tudo isto estimulado pela amizade e caminho comum que une os dois personagens, e restante avengers, que se juntam a uma facção ou outra.

Equipa Stark: War Machine, Black Widow, Iron Man, Black Panther, Vision e (não está na imagem) Spider Man 

O filme entretém os fãs do género com doses generosas de acção, humor e referências ao universo Marvel, ainda que os fervorosos seguidores da BD possam criticar, e não sem razão, a apropriação do título do filme para narrar na grande tela desenvolvimentos tão díspares da “Guerra Civil” original. Tecnicalidades à parte, o filme, não sendo mau, não inova nada dentro dos filmes de acção e não se destinge qualitativamente em nada das dezenas de filmes de super-heróis que têm invadido as salas de cinema na última década.
A batalha moral entre o poder da responsabilidade e a responsabilidade do poder não é nova em filmes deste género e em Captain America: Civil War o equilíbrio entre partes é de tal maneira fraco que o verdadeiro interesse do filme está nas lutas entre heróis ao invés da luta contra um desinspiradíssimo Helmut Zemo, o vilão, cuja presença tenta servir de rastilho para a luta de facções entre os avengers, explorando a morte dos pais de Tony Stark às mãos do Winter Soldier, Bucky Barnes, amigo de infância do Capitão América mas transformado numa máquina de matar pelos Soviéticos durante a guerra fria.

Equipa Rogers: Ant Man, Hawkeye, Agent 13, Captain America, Falcon, Winter Soldier e (não está na imagem) Scarlet Witch
Entre os pontos fortes do filme destacam-se a sua componente gráfica, como seria de esperar num filme da Marvel, o humor sempre presente mesmo nos momentos mais conturbados, efeitos especiais, explosões com fartura, socos, poderes sobre-naturais e dentes partidos, uma fantástica batalha entre avengers num hangar, em que, fiéis à sua tradição, podem partir tudo sem aleijar ninguém e, em destaque, um novo homem-aranha, abordado de uma maneira quase caricaturada mas que me parece não só a mais fiel reprodução do espírito de herói fora dos moldes da classe que o homem-aranha sempre foi, mas também, de longe, a mais divertida.

A desinspiração da história, o fraquíssimo vilão e a falta de inovação, ao fim e ao cabo em Avengers: Age of Ultron, Ultron tenta tal como Zemo em Civil War, explorar as fraquezas dos avengers virando-os uns contra os outros (quem não se lembra da batalha Iron-man vs Hulk?), fazem com que este filme entretenha mas não surpreenda.

Ainda assim, para quem gosta de ver um bom soco no ecrã, homens em fatos de licra, explosões, bigodes e a Scarlett Johansson vale com certeza o bilhete.

Classificação:






Nuno Soares


P.S: Eu nem vou pela parte da BD mas efectivamente o filme tem o nome errado. Não se entende porque é o filme se chama Captain America: Civil War quando este é, sem dúvida, mais um filme dos avengers no qual o Capitão toma parte, mas no qual divide o protagonismo taco-a-taco com o Homem de Ferro. É mariquice mas se calhar chamarem-lhe Avengers: Civil War ficava mais perto da verdade.

P.S.S: Nestlé e FedEx…exemplos de product placement muito muito muiiiiito fraquinho. 

Ainda que com uma breve aparição, o mais divertido Spider Man da história do cinema

terça-feira, 17 de maio de 2016

Crónica Social - O animal que espeta os cornos no destino

Hoje acordei com dois 25 de Abril na alma.

Um deles faz hoje 4 meses que já cá não estás para o celebrar. Mas "enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar". O outro é isto, é esta coisa de ires-me morrendo aos bocadinhos, num processo lento e salteado mas quase diário. Eu que achava que se morria e pronto, ou que seria um "fade out" razoavelmente regular. Só que não.

Há dias que parece que morreste tudo de uma vez, outros nem me lembro que morreste, outros bates à minha porta a meio da noite ou de uma manhã, ou do duche, ou de um olhar que poisa numa das muitas coisas/livros teus por aqui espalhados e lembras-me que já cá não estás, estando. Para quem fica, a morte é um processo muito vagaroso e irregular. Para quem vai, é pragmático. Uma espécie de on/off. Acho... Não sei, nunca morri, calhando também não será bem assim.

Mas hoje cá estou, essa é que é essa, com dois 25 de Abril na alma.

Em nome da tua integridade sem limites e do teu esforço por um mundo justo, e em nome daquele dia em 74 em que aprendi, no alto dos meus 13 anos, que um homem chora - desde então não consigo ouvir a Queixa das Almas Jovens Censuradas - Natália Correia - sem ter como fundo o teu semblante desse dia, a tua jovem alma censurada, sentado no sofá com as ditas a correrem pela face e aí percebi que os dias, os anos, que para mim tiveram todas as cores de uma infância feliz, afinal também podiam ter sido cinzentos, cinzentos – e volta a chorar, desta vez de alegria, emoção, felicidade imensa. Algo de muito bom acontecera e eu estava feliz também por perceber que era um momento único, que merecia o sobressalto quase parecido ao que devia ser o de um parto. Um triunfo da vida.

Aquele dia em que se levantaram as comportas para que as águas pudessem finalmente correr de forma livre, transparente e igual (mal sabia eu que o bicho Homem não é assim tão fácil de “resolver”), em nome desse dia e mesmo não indo a lado nenhum que ainda ando aqui às voltas com muita coisa tua para arrumar, te garanto, a ti que nunca deixaste que te “penteassem o crânio com as cabeleiras das avós”, nos garanto que "enquanto houver ventos e mar, a gente não vai parar". Com o corpo, agora sim, a poder ser cada vez mais parecido ou “igual à forma da alma que o procura - Saravá!”, e muito discernimento.

Nota: Foi antes do 25 de Abril que me “ensinaste” uma verdadeira lição por osmose através da voz do José Mário Branco e das palavras da Natália Correia e das lágrimas desencantadas que se te escaparam numa enorme comunhão com toda a carga das palavras, o cinzento dos teus tempos, em contraste com a minha infância tão cheia de sol. E o significado de “esquifo”.



No turbilhão do meu dique de 13 aninhos giravam também, já talvez desde os 11, 12, outros sinais que me trouxeram alguns dissabores “académicos” (sobretudo no colégio de freiras de onde saí aos 12) e que acrescentaram mundos ao meu mundo. Aqui vão os que me rolaram na memória assim de supetão nesta manhã de sol: o Zeca com as Cantigas de Maio, o Lopes Graça, o José Gomes Ferreira, o Mário Viegas com o seu Poemarma, o Mário Branco, a Joan Baez (álbum sobre a guerra do Vietnam, entre outros) a Anne Frank, os Água Viva, o Ney Matogrosso, O Principezinho, a Irene Lisboa, o Namora, O Fernão Capelo, os Capitães da Areia, um álbum acho que com o Chico Buarque que não me lembro o nome mas ainda canto de cor - todo o morro entendeu quando o Zelão chorou, ninguém riu ninguém brincou e era carnaval, ou, a Dina subiu no morro do Pinto prá mi procurá, não me encontrando, etc. etc. - se alguém souber do álbum, adorava recuperá-lo (Sertão e Favela?). Mas também os Black Sabbath, o Frank Zappa, os Deep Purple, o Léo Ferré, o Regianni, o Moustaki, os Hippies, o Tintim, o Astérix, o Taka Takata, o Alves Redol, a Pearl S. Buck, o Fanhais - que se cantava no colégio de freiras - era um colégio progressista até, o Sagrado Coração de Maria! Estava dispensada das aulas de moral e religião, mas, teimosamente e para enorme teste à paciência e democracia da minha professora, como as questões da moral me interessavam bastante para mais enquadradas através do fenómeno religioso, fazia questão de não faltar.

Chega. Haverá alguns eteceteras. Mas era neste caldo turbilhónico que me encontrava no 25 de Abril de 74, quando um vento impaciente, incrédulo, feliz e também com lágrimas, varreu a sala da nossa casa e se festejou. Num segundo, todo o turbilhão de anos de contestação pode desaguar na promessa de futuro.

Continuaremos o melhor que soubermos.

Obrigada pela paciência e pela aposta e pelo genuíno respeito com que aturaste todo o meu percurso até aí, todas as perguntas e também todos os desafios à tua autoridade pela adolescência fora.

Mais obrigada ainda pelo exemplo que foste. Passar por tantos cargos públicos sem um nico de proveito pessoal, com um rigor quase espartano. É raro e é motivo de imenso orgulho e lição de carácter para muita gentinha. Privilegiaste sempre a qualidade versus quantidade. Antítese desta fúria consumista - mudaste de aparelhagem quê, uma vez na vida? E por avaria total da primeira, bem como a TV, etc. etc. Computador, para quê? A tua propriedade intelectual não saiu minimamente beliscada. Escreveste, escreveste, escreveste…Telemóvel? Só no carro, trabalho “oblige”. Uma lição de separação de águas. De espaços.

E remato com uma frase que me ofereceste grafitada num azulejo e que acompanhou a minha adolescência e passou de mansinho para o quarto da minha filha, desde cedo:


“There is a fault in reality. Do not adjust your mind”

Patrícia Gago

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Pó na Fita - Portrait of a Serial Killer (1986)

Para o começo da Primavera fica um filme de terror perturbador para destoar.

Todos vimos o CSI, o Silêncio dos Inocentes e o Se7en e mais uma colectânea de filmes e séries com e sobre serial killers. A película que vos sugiro, despe-se dos artifícios cinematográficos e, de uma mergulho desconcertante e gelado, imerge-nos no mundo simples de um predador psicopata. O foco de toda a trama está dirigido a Henry, como ele perpetua os seus crimes hediondos, como vive com esses episódios e como os explica a si mesmo. Para além disso, é um retrato poderoso dos marginais e marginalizados pela sociedade, da violência que distorce estes seres humanos, outrora inocentes, transtornando-os em almas penadas sem lei nem moral. A história mostra o que não queremos ver, nem desejamos compreender, nem sonhar em viver, mas, paradoxalmente, leva-nos a um ponto de quase empatia com Henry!
  
Numa câmara ora voyeurista, ora omissa e sugestiva, o tom extremamente cru e real do filme deverá fazer arrepiar os mais empedernidos. Michael Rooker desenvolve a encarnação de um anjo caído, desprovido de sentido de maldade/bondade, imbuído das suas pulsões homicidas, que regem uma parte da sua vida, oscilando entre uma certa candura embrutecida e a glacial possessão demoníaca.

Um retrato sem julgamento, sem reflexão, um soco no estômago de realidade.

P.S. Para quem quiser passar a um nível superior de visceralidade, mas que espelha precisamente a temática da violência, aconselho, qual farta sobremesa, o filme The Woman.


Rafael Nascimento

domingo, 8 de maio de 2016

Nas Asas da Poesia - Um dia serei a Antártida

Quero dormir na Antártida
Esconder caimbras e assaduras
Tornando um apátrida
Em livros sem ranhuras

Não me movo, não prejudico
Escrevo sem ser profeta
Ouço a vida e calo o bico
Sem ter mensagem secreta

Não destruindo passo a criar
Está frio mas quero a Antártida
Para as lágrimas congelar
E aceitar-me sendo a sátira

Progresso torna-nos presos
Eu sou árvore e montanha
Corações saem-se ilesos
Do meu que não tem lenha

Não serei a fogueira
Para coração arrefecido
Aquecer sem fronteira
Num vácuo desmedido

Um dia serei a Antártida



Paulo D. de Sousa

segunda-feira, 2 de maio de 2016

20.000 Visualizações!

O mês de Maio trouxe-nos a vigésima milionésima visita logo no seu primeiro dia, esse Dia do Trabalhador!

Obrigado a essa alma que fez o nosso contador chegar aos 20.000 e às 19.999 que antecederam, aos Trabalhadores da Cultura que fazem dos sonhos realidade, que fazem coisas acontecer, que se desdobram em esforços para que a identidade cultural das comunidades em que se inserem não desapareça e pelo contrário, floresça, cresça e conheça novos horizontes, aos que gravam um álbum, que escrevem um livro, que rodam um filme, e que trazem ao mundo uma das muitas formas de arte que o ser humano usa para se expressar.

A todos, muito obrigado!

1, 3, 20.000... já não nos cabem nas mãos. Obrigado!


A todos os que nos seguem deixamos alguns dos artigos mais lidos do último ano, para lerem ou relerem.