quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Carlos do Carmo - Cascais Music Festival


O Cascais Music Festival, realizado no hipódromo Manuel Possolo em Cascais, trouxe à vila histórica, no dia 20 de Julho, Carlos do Carmo. Num cartaz com nomes tão sonantes e díspares como Keane, Manu Chao, Xavier Rudd ou Pink Martini, Carlos do Carmo, assim como Mariza foram os representantes portugueses e embaixadores do fado, num festival de grande polivalência musical e geográfica.

Não que fosse esperado menos de si, mas Carlos do Carmo apesar dos seus 72 anos mostrou-se senhor de um inigualável vigor e boa disposição, sempre capaz de transmitir ao público a sua mensagem, a sua alegria e a sua vontade de dar a toda a gente, fora e dentro de palco, uma noite de grande espetáculo.

                                              Fig 1: António Serrano acompanha Carlos do Carmo

Desde logo o fadista veterano propôs ao público algo diferente do habitual, prometendo os seus grandes êxitos de sempre como “Lisboa menina e moça” ou “Canoa do Tejo” mas, desta feita acompanhados por outros temas que foram ouvidos menos que muitas dúzias de vezes, nas palavras do artista.

As cerca de 2 horas de música deram assim para um sem fim de temas, mais antigos, mais recentes, originais, interpretações (como “A gaivota” de Amália Rodrigues), para 3 convidados especiais, o seu neto Sebastião, que o acompanhou na guitarra em “Um homem na cidade”, o seu grande amigo e companheiro de armas José Maria Nóbrega, o grande mestre de guitarra que o acompanha há já 36 anos e com quem presenteou o público com “Duas lágrimas de orvalho”, e o madrileno António Serrano, um espetacular tocador de harmónica que acompanhou um mão cheia de músicas, dando uma nova roupagem e um toque a novo aos emblemáticos temas de Carlos do Carmo.

                                                 Fig 2: Carlos do Carmo e o seu neto Sebastião

Houve ainda tempo para uma homenagem ao seu amigo, recém-falecido, em Cascais, o músico e compositor Bernardo Sassetti, completa com a dedicatória do tema “O sol” do cancioneiro popular açoriano.

Em suma, 2 horas de música, entretenimento, espetáculo, com muita garra, boa disposição e muita cumplicidade entre artistas e público, proporcionados por um senhor de 72 anos que faz do fado o seu cantar e que dá pelo nome de Carlos do Carmo.

Um concerto genial!

Nuno Soares

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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ciclo de Música Antiga 2012 - Sagres


Foi no décimo quarto dia do mês de Julho, na igreja de Nª Sra. da Graça na fortaleza de Sagres, pelas 17:30 que se deu início ao Ciclo de Música Antiga 2012 de Sagres com o tema “Sons antigos a Sul”.

Num espetáculo de quase uma hora de música, a soprano Joana Godinho interpretou vários temas de música renascentista acompanhada pelo alaúde de Helena Raposo e pelo ocasional adufe tocado pela cantora. A actuação, intitulada “A musicall banquet” tinha como objectivo presentear o público, cerca de duas dezenas de espectadores, com áreas tocadas nas cortes europeias durante o renascimento. Assim sendo, as artistas propuseram uma viagem que teve o seu início na península Ibérica com temas com “Não tragais Borzeguis pretos” ou “Ay Linda Amiga”, seguindo-se França com, entre outras, “Si le parler et le silence” de Pierre Guédron, Itália, com uma panóplia de temas de Giulio Caccini, Girolamo Frescobaldi, Phillipe Verdelot e Francesco da Milano e por fim, Inglaterra, representada, entre outros temas por “Sorrow Stay” de John Dowland. Toda esta variedade de temas, influências e compositores deram um óptimo espetáculo a apreciadores de música antiga, curiosos e turistas que partilharam com a dupla a pequena Igreja de Nª Sra. da Graça na fortaleza de Sagres e que retribuíram a qualidade e empenho das artistas com calorosos aplausos entre as saudações de familiares e amigos.



O Ciclo de Música Antiga 2012 continuará em actividade com os “Sons antigos a Sul” a soarem até 19 de Agosto, num total de cinco concertos, em que vários artistas apresentarão, gratuitamente, na igreja de Nª Sra. da Graça e na Ermida de Nª Senhora de Guadalupe os seus trabalhos e temas, trazendo à ponta sudoeste do Algarve música de antigamente aos ouvidos de hoje.

Um projecto interessante pela diferença e pela qualidade dos artistas envolvidos!

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Nuno Soares

domingo, 1 de julho de 2012

Páginas Secretas da História de Portugal

Titulo - Páginas Secretas da História de Portugal
Autor - Rainer Daehnhardt
Editora - Publicações Quipu
Data de edição - Fevereiro de 2000

A obra de Rainer Daehnhardt "Páginas Secretas da História de Portugal" é um livro de História (como assegura o título) mas não é um livro com história. É antes um compêndio de várias histórias, mais ou menos secretas, que este historiador luso-alemão decide trazer a público, acrescentando ao facto, real ou hipotético, a sua análise e/ou das fontes a que recorreu para enriquecer e desmistificar diversos casos omissos e falsas verdades da História de Portugal.

Trata-se de um livro interessante, recomendado para os curiosos sobre História de Portugal e do mundo, e leve de ler, uma vez que não se trata de uma narrativa contínua mas sim de 28 pequenas histórias que doseiam em quantidades mais acessíveis a informação e o mistério do livro.





Desengane-se, no entanto, quem procura em "Páginas Secretas da História de Portugal" um livro de ficção histórica, pois não é, de todo, o intuito desta obra que, deixando aberta a discussão e validade das afirmações feitas pelo autor, se encaixa bem mais num contexto de interpretação histórica do que qualquer tipo de ficção. Um ponto positivo a assinalar é a referenciação das suas fontes por parte do autor e a disponibilização na própria obra da bibliografia utilizada para que também o leitor, em favor do seu interesse, possa informar-se sobre as temáticas apresentadas.

Vida e morte de Damião de Goes, a origem do nosso 1º rei, a secular aliança luso-britânica, campos de concentração portugueses, a traição de Fernão de Magalhães e a lenda e mística semeada à volta de D.Sebastião são apenas alguns dos temas que este livro nos traz a discussão, enriquecendo factos e artefactos com a opinião e conclusões do seu autor.

Uma leitura agradável,

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Nuno Soares

sábado, 23 de junho de 2012

Don Giovanni, Opera Buffa de Mozart no Algarve


O programa cultural “Movimenta-te” criado pelos 5 concelhos do Algarve central (Faro, Loulé, Olhão, São Brás de Alportel e Tavira) trouxe nos passados dia 8, 9 e 10 de Junho a interpretação da ópera buffa de Mozart, Don Giovanni, a cargo das companhias belgas Laika – Theatre of Senses e Muzietheater Tranparant.

O cenário escolhido para esta representação foi o convento de S.Francisco em Faro, e foi entre os seus claustros, debaixo de um céu sem nuvens que se fundiram o drama e o humor da ópera buffa com a música da Orquestra do Algarve e as iguarias preparadas pelos alunos da Escola de Hotelaria e Turismo de Faro.

O resultado, de grande qualidade diga-se, foi um espetáculo impar, extremamente dinâmico, em que o palco foi a plateia e cada espectador, um figurante, fazendo elenco e público parte de um todo que constituía, nada mais, nada menos, que o restaurante de Don Giovanni, o personagem que dá o nome à peça e que nos chega como um prestigiado Chef e um galã que não se inibe de seduzir o elenco feminino que constitui parte da equipa do seu restaurante.

Capaz de cativar e envolver o público do início ao fim, esta peça começa entre árias em latim e alemão cantadas pela equipa do restaurante, que vai assim, introduzindo o público ao tema, às relações entre as personagens e à história de Don Giovanni e o sem número de mulheres que seduziu e abandonou, tudo isto, enquanto vão servindo os convivas com os pratos recém-preparados numa estrutura anexa que serve, até em termos cénicos, de entrada para a cozinha do restaurante.

No mesmo espaço, mas no andar superior, num magnífico terraço, a orquestra do Algarve envolve elenco e público num ambiente fabuloso que muito contribui quer para o dramatismo e humor da peça, quer para a perceção do público das emoções que vão sendo transmitidas por uma peça que, vertente cómica à parte, se quer muito emotiva.
 Fig. 1: Don Giovanni (de pé à esquerda) tenta esquivar-se à fúria de suas amantes por cima das mesas.

 





















A peça avança, e vão sendo servindo os pratos (desde a sopa de castanha com amêndoas ao risotto de alcachofra de Jerusalém ou ao refrescante cocktail de gengibre) que juntam exótico e tradicional e culminam numa experiência gustativa que em tudo ajuda a fazer-nos sentir parte de todo aquele espetáculo de sensações, de drama, de comédia e de musicalidade.

Tudo culmina com a perdição de Don Giovanni face à sua incapacidade de renegar os seus jeitos pérfidos acompanhado por uma intensa ária a três vozes interpretada pelo elenco feminino no qual condenam o chef a pagar pelos inúmeros corações destroçados e outros crimes de que é culpado, entre os quais, uma tentativa de violação. Esta cena é acompanhada e dramatizada por uma efígie em chocolate de Don Giovanni que vai derretendo enquanto este agoniza perante a condenação cantada (e tocada pela orquestra do Algarve) naquele que foi o apogeu do drama de toda o espetáculo. O lado cómico e prático desta ópera buffa surge mais uma vez quando o recém-condenado Don Giovanni de chocolate (agora derretido em mousse) é servido aos espectadores, dando assim por terminada esta incrível interpretação deste clássico de Mozart.

Em suma, uma representação de grande qualidade quer pela interpretação teatral/musical das duas companhias belgas, quer pelo acompanhamento instrumental da Orquestra do Algarve e pelos pratos preparados pela Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, pelo conceito em si e pela fantástica execução que proporcionou a cerca de 600 pessoas uma noite diferente, acompanhando um espetáculo digno do nome.

Felicitações para todas as entidades participantes e para o programa “Movimenta-te!”! Fantástico trabalho!

Classificação: 

 Nuno Soares