quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Mês da Poesia: Nas Asas da Poesia - Entre o ribombar das ondas e a chuva que cai


Soa o ribombar, das ondas nas pedras….
Os salpicos do mar, batido pelo vento…
O cair da chuva intensa, da água doce!...
Contrastando c’o Sal, no mar cinzento…

Ondas brancas bravias e espumadas…
Trazem colares de limos como adorno,
Fustigam-se entre pedras esfalfadas,
No rochedo… que d’outrora foi patrono,

Perfume da brisa e da alga salgada…
Rainha areia com a espuma ensopada,
Água que parte no mesmo retorno…

Deixa lisa, areia… Sozinha sem dono,
Resguardada p’lo limo que a margem guarda…
P’la manhã… maré alta, leva numa largada…

Isabel Romão

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Crónica Social - Desacelerar

Só agora consegui ler os livros que comprei na última Feira do Livro de Lisboa. Finalmente dou-me tempo para livros de autores que quero conhecer melhor.
O último foi ‘A Hora da Estrela’ de Clarisse Lispector[1].
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

Fim de tarde ventoso em Oeiras.
As pessoas arrastam-se no regresso da praia, cheios de chapéus-de-sol e sacos Pingo Doce. Chapéus ainda na cabeça, eles em tronco nu e elas com o fato de banho coberto por um pareo ou uma toalha, Crianças cansadas. Famílias de todas as cores, tamanhos e feitios. Velhos fingidos de mais novos. Pessoas sozinhas. Casalinhos jovens de corpos bem-feitos. Cães, geleiras, cadeiras e pranchas.
As bagageiras dos carros a substituírem bem os alforges dos cavalos ou dos burros de outrora. Com a bagageira aberta guardam-se sacos e outros artefactos, tiram-se os chinelos, calçam-se ténis e vestem-se t-shirts. Outros calçam patins.
Outros ainda, com ar de banho tomado, dirigem-se para a marcha no paredão.

Inevitavelmente no verão alteram-se comportamentos. Existem modos de viver de verão que estão disponíveis e parecem desejáveis.
O calor, o apelo da praia e das férias, os dias compridos, os artistas de rua, os caracóis e a imperial (para os muitos que gostam), os corpos mais à mostra, as férias escolares, a diminuição do trafego automóvel nos movimentos pendulares, os festivais, as noites quentes, as idas às terras de origem de família ou da família de amigos, os imigrantes que regressam para matar saudades, a circulação descontraída de visitantes estrangeiros… e tanto mais que a variação individual e de grupo social combinarem fazem do verão uma época especial.
Dizem por cá que o país vai a banhos e as instituições entram em slow motion.
Na verdade, é a Silly Season onde nada parece acontecer. Faltam notícias - podemos falar do bombardeamento televisivo das desinformações?- e fazem-se reportagens leves. Na agenda ficam as férias, as roupas, as relações amorosas das figuras públicas e pouco mais.
Poderíamos falar dos Jogos Olímpicos que acabaram de acontecer no Rio de Janeiro e que forneceram assunto para este tempo quente.
Podemos falar de quase tudo o que nos desinquieta. Podemos falar de quase tudo. Menos do imprevisível.

Na maioria das vezes são inevitáveis os comentários atmosféricos e lamentamos o tempo:
- Assim também não dá! Está muito calor.
Arrisco dizer que fazem parte da nossa identidade cultural as conversas sobre o tempo – tão uteis como quebra-gelo ou rampa de lançamento de outros assuntos.
Regra geral o tempo não cumpre. É objeto de descontentamento, está sempre mais (mais frio/quente, mais ventoso/abafado, …) do que o desejado. Mas mesmo quando é difícil encontrar-lhe defeitos ouvimos qualquer coisa do género:
- [Está um sol radioso] Este tempo não vai durar! Ouvi que chovia no final da semana.
As previsões atmosféricas amplamente consultadas e os alertas coloridos da proteção civil alimentam a paranoia - Cumpre-se uma espécie de fatalismo.
Onda de calor – entre 5 a 13 de agosto as regiões de Lisboa, Setúbal, Braga, Lousã e Anadia passaram por uma onda de calor”[2].
Não me parece que este fado-lamento tenha relação directa com as alterações climáticas que se verificam ao nível planetário. Suspeito que esteja mais relacionado com a necessidade de dar previsibilidade ao imprevisível.
Sabemos que as secas acontecem (sobretudo no sul e interior do nosso pequeno rectângulo), que as inundações chegam com as primeiras chuvas, que o verão é marcado pelo vento do lado sul da serra de Sintra e pelos fogos florestais criminosamente ateados. Sabemos que passamos mais frio no Inverno do que nos países com neve e que se continua a edificar em leito de cheia. Sabemos que não somos amigos da prevenção e acabamos por achar que qualquer acidente ou catástrofe podiam ser piores. São previsibilidades. Positivas ou negativos, mas apaziguadores.
Como nas relações gastas. Aborrecidas, tóxicas, dependentes, sofredoras mas conhecidas.

Sobressair em casa foi o título que Miguel Esteves Cardoso deu à sua crónica de 14 de Agosto[3].
Um elogio ao ficar.
“Para ficar em casa ajuda pensar na nossa casa como um destino, um lugar onde chegámos, que levou muito tempo a atingir. Basta lembrarmo-nos de todas as vezes, depois de uma viagem ou de um dia sem fim, em que entrar em casa foi um alívio, um princípio de paz.
A casa é um refúgio mesmo para quem quer fugir dela. Ficar também é uma viagem: é uma viagem contra o movimento que os nossos pés querem fazer. Ficar parado faz parte da dança. Ficar está para sair não como o silêncio para a música mas como a música que escolhemos ouvir está para aquela que é escolhida por uma multidão.
Só é bom ficarmos se soubermos que podemos a qualquer momento, sair. Há alturas em que não sabemos o que queremos fazer”.

Desperdiçamos demasiado tempo em corridas e rotinas vãs. Acelerar é fácil.
Exigente é  lembrar o que é verdadeiramente importante.



Isabel Passarinho


[1] Clarisse Lispector foi uma escritora brasileira de origem ucraniana que morreu com 57 anos (1920-1977) e deixou uma vasta obra.

[2] Revista Visão (p.20), 2016, 25 de agosto.

[3] Jornal Público

domingo, 28 de agosto de 2016

Mês da Poesia: Nas Asas da Poesia - Ó Mar que és tão majestoso



Ó Mar que és tão majestoso,
Impressionas só de olhar
Tão calmo e tão poderoso
Impossível de ignorar.

Tu és fonte de emoções
Ninguém te é indiferente
Geras medos e paixões
Entre outros sentimentos.

Para alguns, inspiração
Para outros, agonia
Bates, como um coração,
Contra cada rocha fria.

Tanta coisa podes ser
Tanto podes suportar
Tanta coisa pode ver
Aquele que p’ra ti olhar.

Podes ser bela paisagem
Para um casal de namorados
Ou a única passagem
Para alguns refugiados.

Por ti descobriu-se o mundo
Em ti, vidas se perderam
E, hoje, jazem no teu fundo
Histórias que não se conheceram.

Marco Gago

P.S: O Mês da Poesia é um desafio interactivo promovido pelo Opina com o objectivo de dar espaço aos nossos leitores para partilharem os seus escritos poéticos. O Mês da Poesia será realizado regularmente de 2 em 2 meses subordinado a uma temática apresentada no primeiro poema de cada mês. O tema deste mês de Agosto é: O Mar. Enviem-nos os vossos poemas por mensagem privada na página de Facebook do Opina ou por comentário aqui no blog. No caso de haver uma enxurrada de poemas, faremos uma pré-selecção e os poemas seleccionados serão publicados, como de costume, aos Domingos. Boas leituras! 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Mês da Poesia: Nas Asas da Poesia - O Banco do Pescador


Um pequeno banco
De metal enferrujado,
Sem dono, naquele canto
Onde o tomam por dado.

Muitas vezes solitário.
Tempestade… Bonança…
O tempo por companheiro…
Numa incontável dança.

Assento a marinhos velhos
Que não podem partir.
Relembram apenas antigos
Contos, antes de dormir.

Guarida das mulheres,
Que choram ao mar
O regresso ou viuvez
De quem, breve, não vai voltar.

Cúmplice dos namorados,
Que, em línguas trocadas,
Falam dos futuros passados,
Por palavras beijadas

Aventuras sussurrando
Mundos que se prometem.
Ao oceano abarcando,
Aponta-se para além…
              
“Partamos ao acaso,
Nós, num qualquer dia.
Deixemos soprar o vento.
Façamos nossa alegoria.”

“Cruzemos as linhas
Que ar e água separam.
Em desconhecidas estrelas
Teremos nossa direcção.”

Um mútuo reflexo
Brilhando no seu olhar.
Tem a resposta dentro,
 “Sim”, sem pronunciar…


Rafael Nascimento


P.S: O Mês da Poesia é um desafio interactivo promovido pelo Opina com o objectivo de dar espaço aos nossos leitores para partilharem os seus escritos poéticos. O Mês da Poesia será realizado regularmente de 2 em 2 meses subordinado a uma temática apresentada no primeiro poema de cada mês. O tema deste mês de Agosto é: O Mar. Enviem-nos os vossos poemas por mensagem privada na página de Facebook do Opina ou por comentário aqui no blog. No caso de haver uma enxurrada de poemas, faremos uma pré-selecção e os poemas seleccionados serão publicados, como de costume, aos Domingos. Boas leituras! 

domingo, 21 de agosto de 2016

Mês da Poesia: Nas Asas da Poesia - Mar de Sangue


Naufragou a humanidade
Nessa criança embalada
Por um mar de crueldade
Entre a espuma ensanguentada

Afogou-se a dignidade
À beira-mártir de um povo,
Jaz ali a liberdade
Num corpo ainda tão novo

O menino, sem saber
Sonha com dias de paz
E o mundo vê nele morrer
A pomba branca que traz

Pobre criança, indefesa,
Rosto perpétuo da dor
À morte nasceste presa
Por um cordão ditador

São grãos de uma fina areia
Que nos escapa da mão
Os homens mortos pela ideia
De uma opressora razão

Milhões de mães nos suplicam
Pelos filhos que ondas devoram
E em todo o mundo salpicam
Gotas do sangue que choram

Mas tarda a nova maré
Já se faz fraca a corrente
E enquanto uns perdem a fé
Outros perdem toda a gente

Quantos mata, um canhão?
Quantos mata, uma sentença?
Quantos mata, a opressão?
Quantos mata, a indiferença?

Quantos mortos pelos titãs
De uma guerra sem sentido,
Quantos corpos nos ecrãs
De um planeta adormecido?

Naquela praia tranquila,
De um sol que alto vai já,
Jaz a criança reguila
Que nunca mais sonhará,

Naquela praia serena
De areia pura e pinheiro,
Jaz uma pomba pequena
E com ela, o mundo inteiro.



P.S: O Mês da Poesia é um desafio interactivo promovido pelo Opina com o objectivo de dar espaço aos nossos leitores para partilharem os seus escritos poéticos. O Mês da Poesia será realizado regularmente de 2 em 2 meses subordinado a uma temática apresentada no primeiro poema de cada mês. O tema deste mês de Agosto é: O Mar. Enviem-nos os vossos poemas por mensagem privada na página de Facebook do Opina ou por comentário aqui no blog. No caso de haver uma enxurrada de poemas, faremos uma pré-selecção e os poemas seleccionados serão publicados, como de costume, aos Domingos. Boas leituras! 

sábado, 20 de agosto de 2016

Deadpool


Deadpool é mais um filme do universo Marvel que saltou dos quadradinhos para o cinema e que, desde a sua estreia em Fevereiro deste ano, foi elogiado por ser uma lufada de ar fresco na oleada máquina de fazer dinheiro em que se tornaram os filmes baseados em bandas desenhadas. Num período em que, por ano, saem 578 filmes e meio baseados nos universos da DC e da Marvel, numa fórmula que se repete vezes e vezes sem conta, alterando apenas detalhes cosméticos como a cor da armadura, o sotaque do vilão ou o dilema usar/não usar capa, qualquer coisa que saia do costumário arroz com feijão chama a atenção, mas resta saber se esse destaque se deve à qualidade fenomenal do filme ou à falta de inovação em que este género está mergulhado. Vamos tentar descobrir.

Numa coisa Deadpool destaca-se da maior parte dos protagonistas da Marvel: “Eu não sou um herói” diz ele com frequência. E é verdade, não é. Mas o hulk também era uma besta e passados alguns filmes já dá festinhas e abraços, pelo que o futuro deste “Anti-Herói” da Marvel não se avizinha risonho. Ainda não és um herói Deadpool, veremos. Aqui e agora, Deadpool não é um herói mas não é um vilão também (essa lufada de ar fresco ficou reservada para o esquadrão suicida), é um mercenário, mas dos porreiros, uma espécie de Sandor Clegane com sentido de humor e hiperatividade traçado Wolverine a usar as lantejoulas do Homem-Aranha.   

A trama começa em animação suspensa, num dos muitos momentos em que o filme se parodia a si próprio dando uns pós sobre o que se avizinha, um personagem invulgar no seu papel de “herói” (não sou tá bem? Não sou!) despreocupado, alheado, meio lunático, mas não obstante muitíssimo capaz de trazer à audiência aquilo para que vieram: porrada de meia-noite numa história de amor lamechas com um toquezinho de drama, tudo polvilhado com uma pitada de humorzinho sarcástico para a malta não enjoar.


Mas não se fique a pensar pela descrição que o filme é uma desgraça ou que o padrão do fato do Deadpool me desagradou o sentido estético, nada disso. O filme não é uma miséria… mas também não é brilhante. Eu diria que está uns furinhos acima (não muitos) do que vi recentemente dentro do mesmo género e que inclui, a título de exemplo, nomes sonantes como Captain America: Civil War e X-Men: Apocalypse, ambos muito longe de serem geniais.

Para além de poupar na pontuação, Deadpool é um filme divertido com um personagem que faz rir pela sua não convencional trapalhice, quer na acção, quer no diálogo (em que frequentemente fala com o espectador), quer pela crítica ao universo em que se insere, ao próprio filme e aos clichés comuns neste tipo de películas. É ainda um filme com sequências de acção notáveis (como de resto a Marvel já nos habituou) com um trabalho que tem de ser elogiado por parte de Philip Silvera o responsável por treinar e coreografar os combates.

Entre as coisas menos fantásticas contam-se uma inclusão miserável de X-Men de 2ª categoria, uma história alimentada pelo facto de o personagem principal ter ficado feio (já lá vão os tempos de traumas psicológicos graves, perda de memória e de lavagens cerebrais que faziam perder o sentido de identidade e deixavam marcas para a vida) num processo de mutação realizado na corporation dermoestética de Londres, na cave de uma das muitas venues da capital Inglesa, e por super células imunitárias que fazem crescer mãos (incha Wolverine!).

Posto isto, vale a pena ver Deadpool? Vale. É um filme divertido (para quem prefere sarcasmo a marisco) e tem cenas de pancadaria bestiais, tripas com fartura, e mulheres semi-nuas. É um filme do caneco, uma revolução nos filmes de heróis de bande desenhada? Tanto como o Casino Royale do 007 que, de repente, tinha um Bond loiro, com ar de Russo mas que é Inglês.



Classificação:






Nuno Soares

domingo, 14 de agosto de 2016

Mês da Poesia: Nas Asas da Poesia - A mar


Os caminhos dão a mar
Eu, tu, ele, nós, vós, eles
Meu amor, só devo a mar
Eu, tu, ele, nós, vós, eles

Maior produtor primário
Chave do nosso correio
Não é nada secundário
Pois a mar vem primeiro

E amor é Roma invertido
E do a mar vem Portugal
Não tem um só sentido
A mar ninguém leva a mal

Reflectido na termoalina
De onde nos diz um olá
Da circulação salina
Em terras de maracujá

Criaste os mares
Navegaste contra a maré
Casaste pares
Até remaste de pé

Tu és o meu herói

Paulo D. de Sousa

P.S: O Mês da Poesia é um desafio interactivo promovido pelo Opina com o objectivo de dar espaço aos nossos leitores para partilharem os seus escritos poéticos. O Mês da Poesia será realizado regularmente de 2 em 2 meses subordinado a uma temática apresentada no primeiro poema de cada mês. O tema deste mês de Agosto é: O Mar. Enviem-nos os vossos poemas por mensagem privada na página de Facebook do Opina ou por comentário aqui no blog. No caso de haver uma enxurrada de poemas, faremos uma pré-selecção e os poemas seleccionados serão publicados, como de costume, aos Domingos. Boas leituras!