terça-feira, 5 de maio de 2015

Nas Asas da Poesia - Largo dali

Passou mais um dia onde até de tempo são feitas as lendas
A mais um padeiro que de manhã faz notáveis merendas
Mais um dia ao lado do nada que fica no largo dali.

Nesse nada de largo com casas sem tormentas
O cuco falso do relógio dá na parede umas horas lentas
A mais um relojoeiro que perdeu um parafuso pois vive no largo dali.

Passou mais um dia ao lado do nada que fica no largo dali
Já sem espera, sem gosto e desgosto, sem queixume ou ardume
A mais um camionista que na estrada não sonha com o Mali

Passou mais um dia no largo dali
Onde soprava um quente na cara da gente que é invisível
E uma brisa atarefada e sem humidade soprava o previsível

Passou mais um dia no largo Dalí
A mais um bombeiro que se vestia de vermelho e que não tinha receio
De subir uma escada elevadiça de vários metros de altura

Passou mais um dia no largo Dalí
A mais um pintor que queria ser cantor mas que afinal era escritor
Mas é um assunto que não é chamado p´ra aqui

Passou mais um dia no largo Dalí
Onde tudo era parado, onde tudo não se mexia
Era imóvel e sempre constante, algo que pouco se via

Canária não voava porque nem as asas batia
Rouxinol não cantava porque o som não se ouvia
No largo dali os passarinhos são estranhos

Abelha não labutava nem o almoço fazia
E o trabalho da formiga nem sequer se via
No largo dali os insectos são estranhos

Passou mais um dia ao lado do nada que fica no largo dali
Também passou noite mas com a noite já estou a contar
O que aconteceu, se te contasse, não te ias acreditar

O sabiá mexia-se como um jacarandá
No largo Dalí comi chiclet maracujá



Paulo D. de Sousa

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