quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O problema é que somos todos Charlie

"Posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até a morte o direito de o dizeres."

Evelyn Hall[1]

Ainda o mundo estava a ressacar das promessas e novas resoluções para o ano de 2015, quando subitamente no dia 11 de Janeiro, acorda com a notícia do macabro massacre ao escritório do semanário Charlie Hebdo.

Como aconteceu com tantas outras mortes, Charlie Hebdo (personagem colectiva) teve muito mais apoio e fãs aquando da sua morte do que em vida. Isto porque o atentado ao Charlie Hebdo, mais do que as doze pessoas que faleceram (não querendo de todo menosprezar o seu valor) representou um atentado aos Direitos Universais do Homem, mais especificamente o direito à vida e o direito à liberdade de expressão, e não menos importante um atentado aos valores do mundo ocidental.

O mundo uniu-se e a uma só voz ouviu-se e declarou-se “Je suis Charlie”, com o povo também os líderes mundiais uniram-se em Paris na marcha pela LIBERDADE e contra a BARBÁRIE, no entanto, afastados do povo como é apanágio desses seres. Ver a Angela Merkel (principal terrorista financeira dos povos europeus) e Benjamin Netanyahu (Primeiro-Ministro de Israel) na marcha pela Liberdade e contra a Barbárie, é como ver o Pinto da Costa e o Paulo Portas numa marcha contra a corrupção, ou como ver o Hitler a defender o povo Judeu.

Através da pretensa luta pela Liberdade de Expressão, nos dias consequentes multiplicaram-se opiniões concordantes e discordantes, e outras ainda por descodificar, assim como eu o faço para poder exprimir os meus pensamentos.


Então qual é o problema de sermos todos Charlie?

O problema é que as pessoas quando se auto-intitulam de Charlie e defendem a LIBERDADE DE EXPRESSÃO são demasiado literais, isto porque esquecem-se (quiçá por uma deficiente alimentação) que a Liberdade de Expressão é um processo que envolve não só o locutor mas também o interlocutor. Ou seja, eu posso dizer o que quero e bem entender, já o outro quando diz algo contrário às minhas crenças, convicções ou opiniões… ai o ca…., filho da …. e por aí fora…

Somos todos iguais mas também e felizmente todos diferentes e únicos. Este é um problema de estrutura psicológica individual, onde cada vez mais devido à nossa (des)educação e (des)informação o abismo entre o self real (o que realmente somos) e o self ideal (o que queremos ser) é cada vez maior e faz com que esqueçamos (uma vez mais) que não existem verdades absolutas, nem tão pouco uma só verdade. Só conseguiremos diminuir esse abismo com a consciencialização e acima de tudo com a aceitação das limitações de sermos humanos, de sermos falíveis, de sermos imperfeitos. Esse trabalho individual levará a que tenhamos a capacidade de separar e superar o facto de que o facto de alguém satirizar algo que gostamos, defendemos e/ou acreditamos não tem necessariamente de estar a atacar-nos.

O atentado ao Charlie Hebdo foi hediondo e imperdoável, mas aproveitaremos para com isto aprender uma lição, para mudarmo-nos a nós próprios e assim o mundo.

NÃO SEJAMOS CHARLIE E KOUACHI (irmãos responsáveis pelo atentado) AO MESMO TEMPO!


Fábio Andrade



[1] http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/44/a-falsa-citacao-de-voltaire-investigacao-afirma-que-a-300467-1.asp

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