quinta-feira, 2 de julho de 2015

669 - A Crónica do Quiabo - Ateei fogo ao gato mas o gato não morreu

Bons dias!

Depois de alguns meses de sabática na P.E.N.H.E.T.R.A (Plataforma Espacial Não Humidizante do Espaço à volta da Terra) a estudar alterações climáticas eis-me de regresso à superfície para comer com 40º graus no bigode e ouvir notícias de que a época de incêndios este ano atinge igualmente florestas e gatos.

Em tempos de crise, a indústria do fogo posto, como todas as outras, tem que inovar para manter a competitividade a nível internacional, que isto do mercado global diz que é puxadote, mas a malta por cá não vai de se acanhar com a concorrência e para puxar pelos mercados até gatos se assam.

Em Mourão (Vila Flor, Bragança), à falta de bruxas, acham por bem, graça ou tradição, pegar fogo a um pau com um gato no topo, fechado dentro de uma vasilha de barro, sem ver qualquer espécie de problema no gato apanhar um valente cagaço e sair de lá com o pelo em brasa.

“As brasileiras também tiram o pelo todo, não vejo qual é o problema do gato ficar careca. Faz a tosquia todos os anos no S.João no topo do taroco a arder e nunca se queixou.” – afirma uma popular em defesa da tradição, aparentemente concebida para afastar uma praga de formigas que atacava as crianças de Mourão no século IX, quando estas ainda eram, efectivamente, mourinhos.

Eu até percebo que proteger Mourinhos de pragas de formigas comedouras de “special ones” seja motivo para se criarem tradições, numa tentativa de proteger o futuro do futebol nacional mas, onde é que entra o gato nesta história?! Porquê o gato?! Como é que o gato no topo de um pau a arder espanta formigas?

E esta questão preocupa-me, leitores. Confesso que quando vi a reportagem da RTP em Mourão, estava à espera de revelações fantásticas, do género: Então pomos o gato numa caçarola de barro para guisar, que desde 2011 ninguém consegue ver o Coelho, quanto mais comê-lo e a malta tem que dar ao dente, num é? Ou: Então pomos o gato numa caçarola de barro no topo de um taroco cheio de palha a arder, para treinar gatos bombeiros. Ora veja, ele a andar à roda e a guinchar, a guinchar, que parece uma sirene. Contra isto não há fogo florestal que valha, está a ver?

Fig 1: Gato-bombeiro, uma grande ideia que não é a causa do incidente em Mourão.

No fim de contas, e para grande desilusão minha, parece que afinal a população de Mourão não descobriu nenhuma utilização extraordinária para um gato em chamas, mas parecem antes sofrer de uma severa falta de entretenimento, o que me leva a crer que grandes empresários do cinema, do teatro e do futebol, já estão de olho na localidade, pois a avidez que esta malta tem por qualquer coisa que lhes distraia a atenção, fará certamente de qualquer entretém menos inflamável, um sucesso do caraças!

Em todo o caso, o assunto gerou tumultos, queixas judiciais e discussões acaloradas, entre quem defende que esta prática é bárbara e cruel para o animal em questão e quem, como os alunos da primária de Mourão, canta alegremente: “Ateei fogo ao gato-to-to, mas o gato-to-to, não morreu-eu-eu…”

Em suma…pois, coiso… é isso… lembrem-se, durante o verão e com estas temperaturas, não atirem lixo, beatas ou gasolina para o chão que aumentam o risco de pegar fogo a gatos.

Saúde.


Egídio Desidério

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