Para combater o inverno que se aproxima, um tórrido filme de
verão.
Qual graffiti numa parede, a vida de
um bairro afro-americano é-nos apresentada num colorido confronto de nuances
ideológicas.
Mookie, o pizza boy, é o pivot desta
tragicomédia, onde várias sketches se vão entrecruzando. Temos imagens tão
clássicas que vos farão sorrir (aos saudosistas dos anos 80/90), o puto com o
mega rádio ao ombro, os velhos do restelo, o eterno revoltado contra o mundo, o
maluquinho lá do bairro, a loja dos chineses, a pizaria da esquina. Estas
figuras vão se confrontando ao longo dos dias quentes no bairro de Nova Iorque,
aquecendo as suas diferenças em lume brando numa panela de pressão (ou num
forno de pizza)…Impossível de tomar partidos, conseguimos identificar o único
vilão, o preconceito, aquele que nos recusamos a admitir que existe e sempre
existirá se não o conseguirmos calar dentro de cada um de nós.
“Do The Right Thing” é o mergulho no
final dos anos 80 e princípio dos 90. A linguagem, a música (https://www.youtube.com/watch?v=mcbFJAcuomI)
e a caracterização marcam uma montagem inspirada no ritmo de um beat de rap,
ora mais ao osso, ora mais divertido. Spike Lee dirige-se a si próprio e a uma
liga de atores de primeira (divirtam-se a ver os atores nas seus “eus” mais
jovens), que numa forma um pouco caricatural nos fazem andar como um integrante
membro deste escaldante bairro. A película está assente na dicotomia das
diferentes abordagens de Malcom X (violência como auto-defesa) e Martin Luther
King (dar a outra face), uma verdadeira aplicação quotidiana das suas visões. E
de facto, qual a coisa certa a fazer?
Rafael Nascimento
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