Título – O Surto
Autor – António Limpo
Editora – Obnósis Editora
Data de edição – Março 2015
“O Surto” de António Limpo é uma obra
de ficção pós-apocalíptica que transporta o leitor para… Lisboa. É verdade, o
desafio de leitura que o autor nos propõe, exige uma viagem no imaginário, mas
nem tanto no tempo e no espaço.
Assim, a história deste livro
começa numa Lisboa contemporânea, igual em tudo à Lisboa real até ao fatídico
dia 8 de Setembro, dia em que uma doença mortal atinge a cidade. A partir desse
momento acompanhamos alguns sobreviventes enquanto estes veem os seus entes
queridos, colegas de trabalho e desconhecidos morrerem, sem aviso, à sua volta.
A morte é, aliás, omnipresente nesta narrativa pintada a vermelho e cinza.
Imagem 1: "O Surto" de António Limpo |
O dia inicial da narrativa
presenteia-nos com este choque de realidades, causado pelo “rebentar” da
epidemia e, aos poucos, vamos conhecendo os personagens, as suas histórias, e
com o passar do tempo, acompanhamos os efeitos pós-epidémicos da doença que
transforma os infectados em zombies com clara má vontade para com os imunes, e
capazes de transmitir a doença através de dentadas e outras demonstrações de
afecto.
A narrativa prossegue ao longo
dos meses subsequentes à infecção e leva-nos a percorrer vivências que não se
conhecem na Europa há séculos, possivelmente, desde o século XIV com o advento
da peste negra, e onde António Limpo nos descreve de tudo, desde amizades
improváveis e momentos de sacrifício pelo seu semelhante, ao lado mais pérfido
da natureza humana, com o estabelecimento de grupos de canibais que torturam as
suas vítimas para obter informações antes de as matarem e consumirem.
Vídeo 1: Book trailer de "O Surto", no Youtube
Apesar das dificuldades inerentes a este cenário caótico, e não sem sofrer baixas, um pequeno grupo de sobreviventes consegue lançar-se ao mar numa embarcação tomada de assalto em pleno Tejo, rumo aos Açores, onde acreditam existir a possibilidade de encontrar outros sobreviventes e uma esperança de futuro.
António Limpo apresenta um conceito
de literatura fantástica/de ficção que, não sendo nova ou inovadora, é ainda
muito pouco explorada pelos autores nacionais e da Lusofonia. “O Surto” tem o
mérito de proporcionar uma leitura capaz de prender quem o lê, muito devido ao
ritmo rápido, quase cavalgante, com que a narrativa avança, à ambiência
cinzenta, sufocante e claustrofóbica criada pelo autor, e pela familiaridade
introduzida pelas descrições de vários locais em Lisboa por onde o enredo
ziguezagueia, enquanto os sobreviventes tentam fugir de uma cidade fantasma habitada
por zombies.
De relevo, é ainda, o final
aberto que nos aguça a curiosidade para uma futura continuação, desta vez,
advinha-se, na margem Oeste do Atlântico.
Classificação:
Nuno Soares
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