Bom dia!
Hoje senti a necessidade de
partilhar alguns pensamentos sobre uma das muitas questões polémicas que
envolvem o presente (e passados) período eleitoral: a falácia da falta de
escolha.
A falácia da falta de escolha é
uma história, uma fábula, ou um conjunto de argumentos, dependendo do ponto de
vista que, em altura de campanha se espalha como a varíola, com o intuito de beneficiar
aqueles que há 41 anos monopolizam a governação de Portugal (PS/PSD), utilizando
para isto o mais triste dos argumentos políticos: “O partido X é uma desgraça
no que faz, mas os outros não são melhores”.
Ao contrário da varíola, que
existe mesmo e parece que é chata, a falácia da falta de escolha é,
independentemente da eloquência, tom e volume do orador, não mais do que uma
falácia, uma mentira. Hoje vamos desmontar esse apelo à “estabilidade” e à “continuidade”
que PS e PSD tanto se esforçam para passar como a única maneira de lhes salvar
o empreg…, oh, perdão, o país.
Portugal é uma democracia há 41
anos (possivelmente o único aspecto em que realmente vale a pena apostar na
continuidade), tendo atingido o feito a 25 de Abril de 1974, e, desde então,
depois de 2 anos de junta de salvação nacional e governos provisórios, eis que
se estabelecem em 1976 (até hoje) os governos constitucionais que, à excepção
de ano e meio (29 de Agosto de 1978 – 3 de Janeiro de 1980) em que fomos
governados por independentes propostos pelo, então presidente, Ramalho Eanes,
foram conduzidos ora pelos socialistas do PSD, ora pelos sociais-democratas do
PS e, aqui e ali, por um CDS a reboque, sempre que um dos dois partidos não foi
capaz de conseguir sozinho uma “maioria estável/absoluta/grande e boa”.
Nestes 39 anos e meio de continuidade
mais ou menos estável (parece que volta e meia os próprios pregadores da “estabilidade”
e da “continuidade” decidem destabilizar-se uns aos outros, os marotos)
Portugal tem seguido, no que diz respeito às contas públicas, um trajecto
exemplar, estável e contínuo. Direção? Para baixo.
Segundo os dados divulgados no site
da Pordata, o último ano (e único em 50 anos desde 1964 a 2014) em que o estado
Português gastou menos do que ganhou foi 1970 e, à excepção desse vergonhoso
exemplo, temo-nos mantido num caminho estável e contínuo para a bancarrota.
Fig.1: Equus africanus asinus, um burro, só porque sim. |
Em 1975 o estado já gastava o
equivalente a mais de 100 milhões de euros do que o que conseguia recolher em
receitas, em 1976, a diferença já passava os 200 milhões, em 1984
ultrapassava-se a barreira dos 1000 milhões de euros (quanto é que isto é em
escudos?) que o estado gastava, a mais, do que o que tinha para gastar, e em
2002 a balança comercial anual do estado Português acusava um rombo de mais de
5000 milhões de euros. Em 2004, quais campeões (quase fomos, raio dos gregos,
sempre à frente) o estado Português quase ultrapassava os 10000 milhões de
euros de défice anual, barreira que finalmente venceu em 2009, ano em que
atinge a prestigiante marca dos 14057 milhões de euros, marca que, ainda assim
é batida em mais de 200 milhões de euros no ano seguinte. Desde então, e porque
felizmente houve um governo eleito com o propósito máximo de equilibrar as
contas públicas, o estado Português têm vindo a perder, anualmente, só mais de
7000 milhões de euros e o défice encontra-se agora nos 130% do PIB. Estamos
safos.
Mas há que reconhecer que nem
tudo foi péssimo em 39 anos de continuidade PS/PSD/CDS. Desde 1974 foi
construída uma boa rede de ensino, vulgo escola pública, que nos últimos 10
anos vem sendo desmantelada, um bastante razoável serviço nacional de saúde,
cada vez mais inacessível aos cidadãos com menos recursos, quilómetros e
quilómetros de alcatrão, que permitem ao tio Belmiro e afins, aos deputados e
ministros, e aos investidores Chineses e Angolanos uma pista em fantásticas
condições e com pouquíssimo trânsito, para esticarem os motores dos seus carros
modestos (que também emitem poucos gases poluentes e podem entrar na baixa de
Lisboa), tornámo-nos um país turístico, cuja principal mais valia é o baixo
preço, produzimos grandes mentes nas artes, no desporto e na ciência, que são
das nossas maiores e mais produtivas exportações, e claro, continuamos a ter de
maneira muito estável e contínua um óptimo clima e comida fantástica.
Por outro lado, quanto a
alternativas políticas, concorrem às eleições legislativas de 2015 (pois, as
deste domingo) apenas 20 partidos, pouca diversidade por onde escolher.
Apesar de nem todos os partidos
concorrerem em todos os círculos eleitorais, verdade seja dita, nunca houve,
como agora, tanta alternativa, para todos os gostos, opiniões e feitios como
nas presentes eleições. Desde defensores de marrecos e coxos a quem acha que o
Cristiano Ronaldo é o máior há projectos e propostas para defender tudo e mais
alguma coisa, inclusive, a espantosa “continuidade” e a também muito popular “estabilidade”.
Em todo o caso, para que se
conheça e para que se possa votar com a consciência de que sabe a quem e para
quem se está a dar não só dinheiro como o governo do país, deixo-vos uma lista
dos partidos que concorrem nestas eleições, os links para os respectivos programas
e os nomes dos cabecilhas:
AGIR – Coligação PTP-MAS
Líder – Joana Amaral Dias
Programa eleitoral: aqui
Bloco de Esquerda
Líder – Catarina Martins
Programa eleitoral: aqui
CDU – Coligação PCP-PEV
Líder – Jerónimo de Sousa
Programa eleitoral: aqui
Líder – Nuno Moreira
Programa eleitoral: aqui
Líder – Rui Tavares
Programa eleitoral: aqui
Nós Cidadãos
Líder – Mendo Castro Henriques
Programa eleitoral: aqui
Líder – Tânia Avillez
Programa eleitoral: aqui
Partido Comunista dos
Trabalhadores Portugueses
Líder – Garcia Pereira
Programa eleitoral: aqui
Partido da Terra
Líder – José Manuel Silva Ramos
Programa eleitoral: aqui
Partido Democrático Republicano
Líder – Marinho e Pinto
Programa eleitoral: aqui
Partido Nacional Renovador
Líder – José Pinto-Coelho
Programa eleitoral: aqui
Partido Popular Monárquico
Líder – Gonçalo da Câmara Pereira
Programa eleitoral: aqui
Partido Socialista
Líder – António Costa
Programa eleitoral: aqui
Partido Unido dos Reformados e
Pensionistas
Líder – António Mateus Dias
Programa eleitoral: aqui
Pessoas-Animais-Natureza
Líder – André Lourenço e Silva
Programa eleitoral: aqui
Portugal à Frente – Coligação PSD-CSD
Líder – Pedro Passos Coelho
Programa eleitoral: aqui
Divirtam-se e no Domingo não
deixem de ir votar por falta de alternativa.
Nuno Soares
Sim senhor gosto de ver um blog a fazer serviço publico e apelar ao voto fornecendo aquelas que são as ferramentas de divulgação de das ideias partidárias por excelência. Parabéns! O voto informado é mais que um direito, é um dever cívico.
ResponderEliminarObrigado pela opinião JC! Concordo com o que dizes sobre o voto. O grande desafio, parece-me, nesta era de desinformação e poluição de informação em massa, é o de fornecer às pessoas a informação não mastigada para que possam pensar por elas próprias e, mais tarde, informadas, tomar a sua decisão (seja ela qual for). A política (não vou qualificar como "hoje" nem em "Portugal" pois não acho que seja um problema só nosso ou só de agora) vive, infelizmente, baseada na mentira, na manipulação e na ocultação de informação e, justifiquem os líderes dos nossos governos tais práticas como quiserem, enquanto a elas recorrerem não podem ser vistos como honestos, como competentes, nem como defensores dos interesses do país e dos cidadãos. Isso é um grande entrave ao envolvimento das pessoas na política e é um forte estímulo ao desinteresse generalizado, que, como sabemos, beneficia os do costume. Aproximar os dois pólos (o governante e o votante), através da divulgação de informação sobre os programas eleitorais a voto parece-me a maneira de dar-mos o nosso pequeno contributo para que, como dizias, se possa exercer quer o direito, quer o dever cívico do voto informado. ;)
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