Muitos leitores estarão
familiarizados com o jardim do Éden, esse paraíso idílico onde, nos primórdios
da humanidade, Adão e Eva, os primogénitos, passeavam em pelota sem grandes
preocupações. Pelo menos até alguém morder o que não devia e a partir dai ganhar
uma saudável aversão à excisão de costelas.
Bem, a verdade é que o mesmo
jardim, passados todos estes anos, continua a dar problemas com inquilinos. No
final da década de 80 do século passado, e depois do senhorio ter corrido com
os anteriores inquilinos por insistirem em ir-lhe às maçãs, chegou este moço,
de seu nome Éderzinho, que para pôr a coisa mais a seu jeito, logo mudou o nome
do espaço para jardim do Éder, pois afinal era só uma letra de diferença.
No entanto, o senhorio, sujeito
pacato, já idoso e algo avesso à mudança não aprovou e convidou o rapaz a sair
mas, Éderzinho, audacioso como era, falou assim:
Senhor desculpa a intromissão,
Perdoa-me se fiz mal, porque foi
sem intenção,
Mas também não percebo essa
exaltação,
Não chamei à minha filha Lyonee,
nem qualquer outro nome de cão.
O senhorio ponderou e verificou ser
verdadeira a afirmação do rapaz. Entusiasmado pelo sucesso da sua argumentação,
Éderzinho propôs um negócio ao senhorio:
- Fazemos assim. Eu dou 537
toques nesta maçã, faço volta ao mundo, mando ao ar, apanho de cachaço, levanto
e faço o truque da foca, com o nariz, deixo cair, dou de calcanhar e de
primeira marco golo na janela da marquise lá no primeiro andar e se eu
conseguir tu deixas Éderzinho ficar no jardim.
- E se não conseguires?
- Se o Éder não conseguir o
senhor manda o Éder embora do jardim.
E assim foi. O Éder começou e deu
um, dois, quatrocent… e ao terceiro toque tropeça numa cobra que passava por
ali, leva com a bola na cara, tenta salvar com o pé mas dá uma valente joelhada
no esférico que voa até ao primeiro andar e parte a janela da marquise do
senhorio.
E o resto da história é conhecida
meus amigos. O Éder foi expulso do jardim até ser capaz de ganhar o desafio que
lançou ao senhorio, mas sendo rapaz determinado, não desistiu, e enveredou por
uma carreira de futebolista, disposto a tudo para voltar ao tão amado Éden,
perdão, Éder.
Fig 1: O melhor ponta-de-lança da selecção portuguesa desde o mundial de 2014 |
Na sua estrondosa caminhada já se
viu a representar grandes clubes como o Oliveira do Hospital, o Tourizense, o
Académica e o Braga e até conseguiu, após uma época brilhante em que jogou 16
jogos e marcou 4 golos, ir ao mundial no Brasil e afirmar-se, no rescaldo do
mesmo, como o melhor (e único) ponta-de-lança da selecção nacional.
Perante tão galopante escalada na
carreira o regresso ao jardim do Éder está eminente, faltando apenas para isso
aprender a dominar uma bola, contando com a ajuda do padrinho Paulo, um homem
avoado, para alcançar a perfeição.
O senhorio adverte ainda que Éder
tem que marcar golo na marquise sem partir vidros o que se adivinha complicado,
pois a veia goleadora do ponta-de-lança permitiu-lhe marcar até ao início da
presente temporada, em competições da FPF 49 golos em 197 jogos oficiais, o que
dá um impressionante golo a cada quatro jogos!
Boa sorte Éder, boa sorte
selecção! Boa sorte Paulo e as centenas de milhares de euros que levas de
indemnização! Bons Bentos te levem!
Egídio Desidério
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