Foi no passado sábado, dia 27,
que a famosa bióloga, antropóloga e activista dos Direitos Humanos, Jane
Goodall, esteve presente no Woburn Safari Park, nos arredores de Londres, para
uma palestra que reuniu cerca de duas centenas de pessoas, entre os quais,
amigos, colegas, e certamente muitos admiradores.
Nesta palestra intitulada “Gombe
and Beyond” a cientista falou do seu percurso pessoal e profissional, do seu
prematuro interesse pelos animais, de como chegou a África e começou a
trabalhar com Louis Leakey, um arqueólogo britânico que, entre outros feitos,
proporcionou a Jane Goodall não só o seu primeiro emprego em solo africano,
como a base da sua formação e experiência nas áreas da biologia e antropologia.
Foi também a pedido de Leakey que Jane enveredaria mais tarde pelo estudo de
chimpanzés (que a tornaria mundialmente famosa), pois este tinha interesse em
encontrar paralelismos entre o comportamento destes símios e o da espécie
humana como prova de um ancestral comum.
Jane continuou o seu relato
durante cerca de uma hora, durante a qual levou a audiência por uma viagem que
uniu a universidade de Oxford, onde Jane fez o seu doutoramento, sem qualquer
tipo de estudo académico prévio, até às profundezas das florestas africanas, em
particular a que inclui o Gombe Stream National Park, na Tanzânia, onde há 55
anos, estuda as populações locais de chimpanzés. Com uma incrível capacidade de
descrição, quase como uma contadora de histórias, Jane Goodall transportou-nos
até vários momentos icónicos, como a primeira observação registada de um
chimpanzé a utilizar ferramentas para caçar térmitas, ponto-chave na
investigação inicial de Goodall e um marco que levou a comunidade científica a
ter que ponderar muitas definições e conceitos biológicos e comportamentais
sobre o homem, os restantes animais e o que os distingue.
Fig 1: Jane Goodall e dois residentes do Gombe Stream National Park, Tanzânia |
Esta incomparável jornada abarcou
ainda a vida de Jane Goodall como activista dos Direitos Humanos que remonta,
pelo menos, a 1977, aquando a fundação do Jane Goodall Institute, instituto espalhado
por várias dezenas de países em todos os continentes e que promove a educação
ambiental, proteção de espécies ameaçadas e gestão sustentável dos recursos
naturais. Foi também tema de conversa o programa Roots&Shoots, fundado pela
cientista, e que envolve cerca de 8000 grupos de crianças e jovens, dispersos
pelo globo, que trabalham activamente para o desenvolvimento ambiental e social
das comunidades em que estão inseridos.
Finda toda esta partilha de
experiências e acontecimentos, seguiu-se uma sessão de perguntas e respostas, e
uma sessão de assinaturas que muitos quiseram levar para casa a abrilhantar um
dos livros da autoria de Goodall.
Como curiosidade fica a nota de
que, em resposta a uma das perguntas colocadas pela audiência sobre o que
pretendia Jane fazer agora que atingira os 80 anos, se pensava em assentar
arraiais e aproveitar os seus últimos anos em paz e repouso ou se, pelo
contrário, preferia continuar a sua rotina de investigadora, educadora e
mensageira da paz das Nações Unidas enquanto a saúde lhe permitisse, Jane
respondeu que, curiosamente, ao longo da sua vida tem vindo a descobrir mais e
mais coisas que considera importantes fazer e que, por isso mesmo, a sua
tendência será fazer cada vez mais e não menos.
Fig 2: Jane Goodall e a sua mascote Mr. H (de Hope - Esperança) |
Assim sendo, esta não será
certamente a última vez que se ouvirá falar de Jane Goodall que continua o seu
périplo pelo mundo a investigar, a educar e a espalhar uma mensagem de paz, de
mudança e de um desenvolvimento equilibrado e sustentável.
Um inesquecível evento, uma
pessoa fantástica, uma personalidade ímpar.
Nuno Soares
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