Mário Alberto Nobre Lopes Soares
morreu a 7 de Janeiro de 2017 em Lisboa, cidade que o viu nascer na já extinta
freguesia do Coração de Jesus, a 7 de Dezembro de 1924.
Durante os seus 92 anos de vida
Soares distinguiu-se pela luta contra o regime ditatorial liderado por António de
Oliveira Salazar, pela cimentação de um regime democrático em Portugal no pós
25 de Abril, pela sua intransigência a favor da descolonização e independência
dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), pelo seu papel na
afirmação e legalização da liberdade sindical, pela adesão à Comunidade
Económica Europeia (CEE), entre tantos outros feitos e causas para os quais se
mobilizou.
O jovem Mário Soares formou-se,
na década de 50, em ciências histórico-filosóficas e mais tarde em direito, e
havia de ser pela sua actividade de advogado, ligado à luta pelos direitos
cívicos e democracia, à parca e ilegal oposição política ao regime fascista em
vigor e à defesa de opositores de Salazar, entre os de maior renome, Álvaro
Cunhal, a família do (então) recém-assassinado general Humberto Delgado e Maria
Pia de Bragança, que Mário Soares se distinguiria na luta contra o regime.
Tal distinção levou a que fosse
preso 12 vezes, entre as quais se conta um período de 2 anos no campo de
concentração do Tarrafal na ilha de Santiago, em Cabo Verde antes de lhe ser
permitido o exílio em França, onde permaneceu até à revolução de 25 de Abril de
1974.
Ao regressar a Portugal logo após
a revolução, Mário Soares integrou os três primeiros governos provisórios da
Terceira Republica Portuguesa como ministro dos negócios estrangeiros, tendo
tido um papel preponderante no processo de descolonização dos PALOP e no
processo de independência dos mesmos. Neste processo que se estendeu entre 1974
e 1975 e que esteve longe de ser consensual, existiram pontos que granjearam a
Soares louvores e outros ódios perpétuos.
Por um lado o fim abrupto da
guerra colonial, que há quase década e meia ceifava vidas e os cofres de
Lisboa, deixando um país desertificado, pobre e cheio de feridas, chagas e
traumas difíceis de sarar, e o reconhecimento do direito à autodeterminação das
colónias africanas, conseguiu grande aprovação quer daqueles que viam
familiares e amigos serem enviados para África para, muitas vezes não
regressarem, quer da comunidade internacional que via no Império Colonial
Português uma relíquia de tempos passados e um entrave à democracia. Por outro
a apressada descolonização reduziu a quase nada a ligação e influência de
Portugal nos PALOP e esse vácuo de poder criou um ambiente propício para as
guerras civis que deflagraram em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau e para a
expropriação e expulsão de muitos Portugueses residentes nestes países
Africanos.
A presença política de Mário
Soares continuou assídua tendo sido primeiro-ministro entre 1976-78 e 1983-85.
Foi durante os seus governos que foi revogada a lei da unicidade sindical
(1976) que não permitia a criação de alternativas à então central sindical
única (a CGTP), criando espaço para o surgimento da UGT (1978). Foi também
responsável pela candidatura e parte do processo de adesão (1977) à CEE num, à
altura, movimento de rutura com o pensamento político dominante, dentro e fora
do seu partido, processo esse que termina com a bem sucedida adesão em 1986.
Em Março desse mesmo ano de 1986
Mário Soares é eleito presidente da república Portuguesa cargo no qual se
destacaria pelo seu modelo de “presidências abertas” em que Soares percorreu o
país de Norte a Sul, conhecendo e dando a conhecer as múltiplas realidades que
se viviam no Portugal de então, as necessidades de infraestruturas e
investimento, promovendo cultura, produtos e serviços locais, associando-se a
organizações e eventos, trabalhando, de certo modo para um descentralização de
consciências e atenções da capital para o restante país. Soares manter-se-ia no
cargo até 1996.
No período pós-presidência Soares
dedica-se à promoção de iniciativas culturais e de cidadania, sem nunca deixar
a política. Em 1991 cria a fundação Mário Soares focada “na promoção de
iniciativas de cariz cultural, científico e educativo nos domínios da ciência
política, história contemporânea, relações internacionais e direitos humanos”.
Entre 1996 e 2002 dá aulas nas universidades de Coimbra e Lusófona, em Lisboa.
Entre 1999 e 2004 foi deputado
europeu e em 2006 candidato (sem sucesso) a novo mandato para a presidência da
república. Desde 2010 presidia ao júri do Prémio Félix-Houpouët Boigny para a
Paz, atribuído pela UNESCO a indivíduos ou organizações que se destaquem nessa
área de actividade.
Gostando-se mais ou menos da
pessoa Mário Soares, partilhando-se ou não das suas ideologias, convicções e/ou
cores partidárias (e sendo de cada um o direito de julgar o seu legado como bom
ou mau), há que reconhecer a importância do trabalho de Soares para a
solidificação de um regime livre e democrático em Portugal, pela integração no
projecto Europeu e pelo esforço de descentralização que levou atenção
mediática, fundos e mudança progressista para diferentes regiões do país.
Por tudo isto,
Obrigado, Mário Soares!
Nuno Soares
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