Diz-me a experiência
que à medida que Janeiro avança é frequente (para muitos dos mortais incluindo
eu própria) ficar enrolado no ram-ram
das nossas boas rotinas e lá se vão os planos.
Não que as rotinas
tenham algo de mal. Aliás, aprendi a valorizá-las pela energia que nos poupam e
pela segurança que dão. O problema é a dose.
Quero eu dizer (e
falando de mim, uma vez mais) que se não introduzir nada de novo fico com um
sentimento de estagnação. Com receio de acostumar o olhar e o pensamento. E
isso não é bom para a minha alma inquieta.
Com isto não quero
dizer que seja preciso andar sempre a inventar a roda. Cada um/a saberá o que
lhe faz sentido mudar, fazer de outro modo, fazer de novo, arriscar.
Acreditando que
ninguém muda ninguém e que apenas nos podemos mudar a nós próprios não deixa de
ser paradoxal que os únicos problemas que parecem simples de resolver, sejam os
dos outros.
- Faz isto e
aquilo!
- Se eu fosse
a ti, fazia assim …
Tenho para mim que mudar
é uma das coisas mais difíceis a que nos podemos propor. Ou que alguém nos pode
propor. Ou que nós propomos a alguém.
Falemos das pequenas
ou das grandes mudanças. E das respectivas resistências. Ou bloqueios.
Sílvia não pode ouvir a
palavra mudança. Bloqueia, se a conversa for sobre este tema.
Fica com a cabeça
confusa e só quer falar de acontecimentos.
- Porque é que se tem
de falar sobre mudanças??! As coisas acontecem e pronto, já está.
Também existem pessoas que pedem mudanças como quem
faz pedidos ao Pai Natal, como graças a serem concedidas em troca de
merecimento e boas ações.
Outras pessoas vão arranjando argumentos para
permanecerem mais ou menos na mesma. Porque estão bem ou não estando, não
querem ou não sabem mudar.
Provavelmente menos pessoas se propõem a um caminho
de desenvolvimento pessoal que implique reflexão e mudança – Mutatis mutandis – mudar o que tiver que
ser mudado.
Mesmo quando se reconhece a necessidade de mudar,
ou quando se está a sofrer emocionalmente, mudar significa arriscar, sair da
zona de conforto, mergulhar em zona não conhecida.
Parece-me que as mudanças que colocamos em marcha
para alterar algo de significativo em nós são muito mais raras. E difíceis. E
ambivalentes. E sujeitas a avanços e recuos.
Claro que existem pessoas que falam das suas
mudanças com determinação
- Decidi e nunca mais peguei num cigarro. Já
lá vão 10 anos.
- Tinha uma vida muito sedentária e isso não me fazia bem à saúde. O médico recomendou-me
exercício físico e desde esse dia nunca falhei. Faça chuva ou faça sol.
Creio que as nossas mudanças (de hábitos, de pensamento,
de comportamento…) são percursos. Caminhos mais ou menos longos. Mais ou menos
determinados.
Sem querer entrar por tipologias identifico três
espécies de mudanças na minha experiência de vida com exigências diferentes: as
adaptativas, as reativas e as de transformação.
Das primeiras, todos temos experiência mais ou
menos frequente. Sobretudo daquelas mudanças que nos permitem mudar apenas o
suficiente para que possa permanecer tudo igual. Têm a sua importância mas na
escala de valor de cada pessoa não são aquelas que recordamos como marcadoras
de uma nova etapa.
As mudanças por reação podem ser sentidas como
negativas ou positivas e as circunstâncias podem ter dimensões externas e
internas. Decidir ir viver junto ou separar-se, mudar de casa e de território
de vida ou de trabalho, o nascimento de um filho, uma situação de desemprego, um
luto… são exemplos de acontecimentos que nos convocam para mudar.
Podemos fazê-lo ou não o fazer.
Quando faço o exercício de pensar nas mudanças
significativas que operei na minha vida encontro poucas. E essas são as
mudanças de transformação. De evolução na situação que vivi mas sobretudo de
mudança em mim, na maneira como pensava, nos óculos que usava para ler o mundo.
Mudanças que acontecem no intervalo possível entre a mobilização das forças e a
possibilidade de risco que admitimos. Com o cuidado de não chegar ao pânico,
que nos traz de volta ao centro da nossa zona de conforto.
Mudanças que são feitas connosco e contra nós. E
com os outros que nos são importantes.
A verdade é que preciso dos outros para mudar. Aos
outros vou buscar energia, reforço, a possibilidade de funcionar em circuito
aberto, a entrada de perspectivas divergentes da minha, o aconchego.
Para além das mudanças que me aconteceram e as que
fiz por acontecer, as que quis muito e aquelas que acabei por aceitar, também
consigo perceber o que não tive coragem de mudar. Mesmo querendo. Ou achando
que devia mudar e não mudei.
Vivo com isso.
Por vezes angustiada e outras vezes, não. Procrastino.
Sou inquieta e nem sempre mudo o que precisaria
mudar.
Mas tento não alimentar ressentimentos com os
outros e comigo própria.
Não tenho o desejo de voltar atrás no tempo para
refazer ou redesenhar a vida.
Foi como foi, como podia ter sido, com coisas que
correram bem e outras nem por isso.
Longe da perfeição. Tentando agradecer pelo que a
vida e eu própria me permiti.
Mas na verdade, não sei nada sobre Mudança.
E suspeito cada vez mais que o peso do acaso nas
nossas vidas faz-se sentir…
Isabel Passarinho
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