Rogue One é o oitavo filme do
universo Star Wars mas é o primeiro do seu género. Ao contrário dos restantes
(episódios I – VII) este filme não retrata parte do enredo principal (focado na
família Skywalker) mas sim uma side story
encaixada temporalmente entre o Episódio III: A vingança dos Sith (2005) e o
Episódio IV: Uma nova esperança (1977).
Esta história foca-se no processo
que levou a Aliança Rebelde à descoberta de uma falha estrutural na Estrela da
Morte, facto que permitiu a sua destruição no Episódio IV num momento épico que
serviu de mote à restante saga. Uma nova esperança foi isso, a destruição da
mais poderosa arma, capaz de destruir planetas, de um pérfido império que
ameaçava tomar a galáxia através do terror e da força. Mas uma nova esperança
não seria possível se alguém não fosse capaz de descobrir os segredos da
Estrela da Morte e fazê-los chegar aos rebeldes.
E é neste ponto que nos é
apresentada a família Erso, Galen um cientista de grande valor para o Império
Galáctico que, no início desta aventura vive em retiro no planeta Lam’hu com a
sua mulher Lyra e a sua filha Jyn, numa existência aparentemente simples e
idílica. Tudo isso acaba quando o Império descobre e visita Galen para o forçar
a construir a Estrela da Morte.
Fig.1: Jyn Erso (ao centro) e os seus gunas |
Jyn perdeu pai e mãe nesse
instante e ficou entregue aos cuidados do amigo dos pais e comandante rebelde
Saw Guerrera, mas algo não correu bem e quando voltamos a encontrar a jovem Jyn
ela é já uma mulher feita e prisioneira das forças imperiais. Daí em diante
assistimos às suas aventuras e desventuras, à sua colaboração com a Aliança
Rebelde e ao contacto com a vida e obra do seu pai, até ao inevitável
reencontro, sempre com a ameaça negra do Império a pairar sobre si, e o Império
tem sombras negras ao seu serviço…
Rogue One faz um excelente
serviço a explorar o riquíssimo universo Star Wars, introduzindo vários
planetas, espécies alienígenas, designs de naves e toda uma panóplia de
referências arquitectónicas e culturais que se tornaram icónicas em Star Wars e
que mergulham o espectador numa experiência deliciosa que mistura a nostalgia
da trilogia original com a tecnologia dos dias de hoje.
O enredo denso e bem escrito dá
uma profundidade certa às personagens e ao seu meio envolvente, cativando quem vê
e dando-lhes relevância, contexto e conteúdo, algo que em algumas situações
falhou no recente Episódio VII e que influencia sobremaneira a nossa vivência
do filme. O equilíbrio humor-drama está também muito bem conseguido. Num filme
com uma aura mais negra do que a saga nos habituou, os rasgos secos e directos
do droide K-2SO servem de bálsamo a uma realidade desolada por guerra e morte e
arrancam boas gargalhadas.
Fig. 2: Backstreet Boys |
Destaco ainda Chirrut Îmwe, um
monge invisual do templo de Jedha que nos traz essa aura mística que os Jedis
deixaram mesmo após o seu desaparecimento, através apenas da sua proficiência
marcial com um bastão e uma fé inabalável na Força.
Com este e outros companheiros
improváveis, o percurso de Jyn Erso dá-nos uma perspectiva diferente de toda a
saga que precede este filme: desta vez a luta da Aliança Rebelde contra o
Império Galáctico não nos é mostrada pelos olhos de poderosos cavaleiros Jedi
ou os seus contrapartes negros, os Sith, grandes generais, senadores ou
imperadores, mas através de gente comum que se junta com os poucos recursos que
tem, com grande sacrifício para lutar pelo bem comum, pelo que acreditam,
contra a tirania do Império.
Esse é a meu ver o maior feito de
Rogue One.
Fig. 3: Chirrut Îmwe segundos antes de desgraçar a vida a estes traquinas |
Não sendo esse o foco desta
análise, a comparação com o Episódio VII é inevitável por serem os dois
representantes desta nova geração de filmes Star Wars, e quando postos lado a
lado, Rogue One destaca-se positivamente devido ao melhor enredo (não repetição
de histórias prévias), personagens mais densos, maior variedade de referências
e elementos cénicos e culturais que fazem de Star Wars, Star Wars, e que tudo
junto torna a experiência mais coesa, coerente e capaz de, não só entreter mas
deliciar.
Em jeito de conclusão quero
deixar nota positiva para o realizador Gareth Edwards que, numa era em que o
cinema sofre da febre do “tem que ser trilogia nem que seja à lei da marreta”
conseguiu fazer um filme de excelente qualidade, com princípio, meio e fim, que
se encerra em si próprio e não perde qualquer valor por isso, pelo contrário. Consegue
explorar um novo tom, muito mais negro e cru sem perder o tom fantástico da
saga levando quem vê o filme a sentir que está simultaneamente a ver Star Wars
mas algo que nunca viu antes em Star Wars, o que, aqui entre nós, cativa.
Um filme obrigatório para os fãs
da saga!
Fig. 4: Lord Voldemort |
Classificação:
Nuno Soares
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