Captain America: Civil War é o
mais recente filme produzido pela Marvel Studios, inspirado pelo universo de
banda desenhada da mesma companhia onde super-heróis em fatos de licra ou aço
(parecem ser os dois melhores materiais para estimular super-poderes) entretêm
a sua existência a salvar o mundo de super-vilões, inteligências artificiais, invasões alienígenas e
organizações terroristas.
A narrativa surge como conclusão
da trilogia formada por Captain America: The First Avenger (2011) e Captain
America: Winter Soldier (2014) e no seguimento da linha temporal de Avengers:
Age of Ultron (2015) colocando o espectador numa missão dos avengers (uma
organização de super-heróis da qual fazem parte, entre outros, o Capitão
América e o Homem de Ferro) em Lagos (não, não é no Algarve), Nigéria, na qual
impedem o furto de uma arma biológica por um grupo terrorista liderado por
Crossbones um dos vilões do universo Capitão América. Infelizmente, e como é
frequente, a missão dos avengers não ocorre sem danos colaterais e quando
Crossbones, derrotado, se faz explodir com o intuito de, num derradeiro acto de
vingança, levar consigo o Capitão, este acaba por ser salvo pelos poderes
telecinéticos da sua companheira Scarlet Witch que projecta a bomba no ar, para
longe do Capitão, destruindo acidentalmente parte de um edifício adjacente,
causando a morte das pessoas que lá se encontravam.
Este é o mote para o todo o
enredo que se segue e para a “guerra civil” entre os avengers, que resulta da
pressão das nações unidas para que os avengers passem a ser um recurso ao
comando desse organismo e das suas agendas, posição apoiada por Tony Stark, o
Homem de Ferro, contra o direito de escolha de como e onde actuar, segundo os
seus princípios e valores ao invés de andar a mando de outrem, posição
defendida por Steve Rogers, o Capitão América.
O conflito de opiniões destes
dois líderes dentro do grupo e a dupla dicotomia entre Stark, um génio e
magnata da tecnologia e homem movido a emoções, maioritariamente conflituosas,
e um ego tão grande e redondo como o mundo e Rogers, um homem simples, um
soldado mais que um capitão, que toma as suas decisões baseado numa lógica
simples de fidelidade no que acredita, torna o confronto interessante, tudo
isto estimulado pela amizade e caminho comum que une os dois personagens, e
restante avengers, que se juntam a uma facção ou outra.
Equipa Stark: War Machine, Black Widow, Iron Man, Black Panther, Vision e (não está na imagem) Spider Man |
O filme entretém os fãs do género
com doses generosas de acção, humor e referências ao universo Marvel, ainda que
os fervorosos seguidores da BD possam criticar, e não sem razão, a apropriação
do título do filme para narrar na grande tela desenvolvimentos tão díspares da
“Guerra Civil” original. Tecnicalidades à parte, o filme, não sendo mau, não inova
nada dentro dos filmes de acção e não se destinge qualitativamente em nada das
dezenas de filmes de super-heróis que têm invadido as salas de cinema na última
década.
A batalha moral entre o poder da
responsabilidade e a responsabilidade do poder não é nova em filmes deste
género e em Captain America: Civil War o equilíbrio entre partes é de tal
maneira fraco que o verdadeiro interesse do filme está nas lutas entre heróis
ao invés da luta contra um desinspiradíssimo Helmut Zemo, o vilão, cuja presença tenta
servir de rastilho para a luta de facções entre os avengers, explorando a morte
dos pais de Tony Stark às mãos do Winter Soldier, Bucky Barnes, amigo de
infância do Capitão América mas transformado numa máquina de matar pelos Soviéticos
durante a guerra fria.
Equipa Rogers: Ant Man, Hawkeye, Agent 13, Captain America, Falcon, Winter Soldier e (não está na imagem) Scarlet Witch |
Entre os pontos fortes do filme
destacam-se a sua componente gráfica, como seria de esperar num filme da
Marvel, o humor sempre presente mesmo nos momentos mais conturbados, efeitos
especiais, explosões com fartura, socos, poderes sobre-naturais e dentes
partidos, uma fantástica batalha entre avengers num hangar, em que, fiéis à sua
tradição, podem partir tudo sem aleijar ninguém e, em destaque, um novo homem-aranha,
abordado de uma maneira quase caricaturada mas que me parece não só a mais fiel
reprodução do espírito de herói fora dos moldes da classe que o homem-aranha
sempre foi, mas também, de longe, a mais divertida.
A desinspiração da história, o
fraquíssimo vilão e a falta de inovação, ao fim e ao cabo em Avengers: Age of
Ultron, Ultron tenta tal como Zemo em Civil War, explorar as fraquezas dos
avengers virando-os uns contra os outros (quem não se lembra da batalha
Iron-man vs Hulk?), fazem com que este filme entretenha mas não surpreenda.
Ainda assim, para quem gosta de
ver um bom soco no ecrã, homens em fatos de licra, explosões, bigodes e a
Scarlett Johansson vale com certeza o bilhete.
Classificação:
Nuno Soares
P.S: Eu nem vou pela parte da BD
mas efectivamente o filme tem o nome errado. Não se entende porque é o filme se
chama Captain America: Civil War quando este é, sem dúvida, mais um filme dos
avengers no qual o Capitão toma parte, mas no qual divide o protagonismo taco-a-taco
com o Homem de Ferro. É mariquice mas se calhar chamarem-lhe Avengers: Civil
War ficava mais perto da verdade.
P.S.S: Nestlé e FedEx…exemplos de
product placement muito muito muiiiiito fraquinho.
Ainda que com uma breve aparição, o mais divertido Spider Man da história do cinema |