Aos 20 anos queria mudar o mundo. Queria ser ativista, agir
para a mudança a favor de um mundo melhor, humanamente mais justo e menos
desigual.
Ao fim de 30 anos de trabalho (em que fui acrescentando a
militância social à condição de assalariada técnica) no campo da intervenção
social fui reformulando os argumentos para mim própria e tentando encontrar
justificação, em consciência, para o meu agir em cada momento histórico e
circunstância.
Agora estou mais focada em mudar-me. Convicta de que, na
luta com e contra as minhas próprias resistências, cicatrizes e handicaps, vou mudando (menos do que
gostaria) e algumas mudanças acontecem, perto e longe de mim.
Continuo a querer mudar e a ser co-protagonista de
mudanças. Mas admito, contas feitas, que talvez tenha sido mais adaptativa do
que inovadora.
A este percurso que tem sido uma espécie de revolução
pessoal on going chamo Vida.
Numa época em que quase todos os spots anunciam we can num
alter-ego humano de poder sobre si próprio e sobre o mundo, admitir que ‘não se
pode pregar prego nem estopa’ tem um lado terminal. Depurado. Essencial.
Tem também um
conjunto de outros lados.
O lado de lidar com muitos
excessos - Teorias, informações, sentimentos.
Sentimentos que não
sabemos gerir. Estamos ao serviço de quê? O lado da negatividade e da
frustração. O lado de pôr em causa mais do que seria necessário. O lado de
fecho em explicações redondas. O lado de afogamento em perguntas retóricas que
anseiam por explicações - Só queria entender!
São muitos os lados.
De entender, de não entender, de entender apenas um bocadinho ou de ir mudando
os entendimentos.
Convicções e teorias
em excesso. Informações, escolhas, dualidades e paradoxos.
Na minha história tenho
episódios e situações de ‘não saber’, de ‘não perceber’, de ‘não poder’, de
confronto com a impotência e com a limitação. Às vezes, não quero saber.
Aliás, tenho ideia de
que quanto mais próximas as pessoas e as situações mais difícil é focar – lembro-me
muitas vezes daquele personagem do Woody Allen no filme Deconstructing Harry que ficava out
of focus. Sei o que é este estado.
Tenho também
experiência de períodos da vida em que agi como se não houvesse amanhã. Em
corridas que, pelo meio, perdiam o sentido ou em que eu me perdia do
significado que lhe tinha dado.
A sério e na vida, só
temporariamente consegui gerir os excessos. A maior parte das vezes com danos.
E continuo a
interrogar-me sobre as formas de respeito para com a ‘região demarcada do
outro’. Sobre como se fazem e não fazem, as mudanças – pessoais,
organizacionais, na sociedade e no mundo. Nos ecossistemas. Em mim.
Entre as questões
mais macro, estruturais, societárias e ambientais e a vida de cada dia, a nossa
vida de formigas em carreiros mais ou menos previsíveis, existem muitas
ligações.
Alguns sucumbem ao
sentimento de pequenez, de falta de poder, de zanga, da anestesia e da propaganda.
Podem passar vidas inteiras em palavras de ordem que não acontecem. Ou pelo
contrário, querendo apenas seguir o carreiro.
Outros vão tentando
olhar o caminho por onde andam e melhorar ‘a’ e ‘na’ caminhada.
Com os sentidos no
movimento, entre a pegada e o cosmos…
Qual a medida do
necessário e adequado?
Isabel Passarinho
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Overreact - Termo
que designa reação ou resposta mais forte do que o necessário ou apropriado