Passou mais um dia onde até de tempo são feitas as lendas
A mais um padeiro que de manhã faz notáveis merendas
Mais um dia ao lado do nada que fica no largo dali.
Nesse nada de largo com casas sem tormentas
O cuco falso do relógio dá na parede umas horas lentas
A mais um relojoeiro que perdeu um parafuso pois vive no
largo dali.
Passou mais um dia ao lado do nada que fica no largo dali
Já sem espera, sem gosto e desgosto, sem queixume ou ardume
A mais um camionista que na estrada não sonha com o Mali
Passou mais um dia no largo dali
Onde soprava um quente na cara da gente que é invisível
E uma brisa atarefada e sem humidade soprava o previsível
Passou mais um dia no largo Dalí
A mais um bombeiro que se vestia de vermelho e que não tinha
receio
De subir uma escada elevadiça de vários metros de altura
Passou mais um dia no largo Dalí
A mais um pintor que queria ser cantor mas que afinal era
escritor
Mas é um assunto que não é chamado p´ra aqui
Passou mais um dia no largo Dalí
Onde tudo era parado, onde tudo não se mexia
Era imóvel e sempre constante, algo que pouco se via
Canária não voava porque nem as asas batia
Rouxinol não cantava porque o som não se ouvia
No largo dali os passarinhos são estranhos
Abelha não labutava nem o almoço fazia
E o trabalho da formiga nem sequer se via
No largo dali os insectos são estranhos
Passou mais um dia ao lado do nada que fica no largo dali
Também passou noite mas com a noite já estou a contar
O que aconteceu, se te contasse, não te ias acreditar
O sabiá mexia-se como um jacarandá
No largo Dalí comi chiclet maracujá
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