Bom dia!
Hoje venho falar-vos de uma arte
milenar que ao fim de 6000 anos de cheirosa existência atravessa uma fase algo
conturbada. Falo, claro, do fabrico de perfumes.
Segundo a wikipédia, essa
infalível fonte de sabedoria e conhecimento, a utilização de perfumes remonta,
pelo menos, a 4000 a.C.. Segundo Bjorg Estrongulenberg, especialista da
wikipédia para cheiros esquisitos, os antigos egípcios já fabricavam e usavam
perfumes para não deixarem os seus bonitos sarcófagos a cheirar a morto. Em vez
disso preferiam a fragrância a pó, formol ou resina de pinheiro, algo exótico
no Egipto.
Uns anos mais tarde, Cristo,
também ele um conhecido apreciador de produtos de perfumaria não saía para pregar
sem colocar um pouco de seu bouquet
favorito, uma mescla de sal-gema, incenso e malva que fez tanto sucesso entre
pescadores, vendilhões e reis magos que motivou a bispa Sônia Hernandez da
igreja evangélica “Renascer em Cristo”, sediada no…wait for it…Brasil (eu sei
que nunca adivinhariam) a recriar essa fragrância abençoada e a coloca-la em
frascos da sua marca de produtos de higiene “De bem com a vida”.
Mas a triste realidade é que
apesar destes excelentes exemplos a indústria do perfume está ameaçada pois o
seu objectivo primordial vê-se cada vez mais profanado. E que objectivo místico
é esse? É… cheirar bem.
No século XX com avanços
tecnológicos sem precedentes a quantidade de perfumes produzidos disparou,
assim como a diversidade de odores, naturais e sintéticos que, sozinhos ou
combinados, invadiram o mercado e as narinas do mesmo modo que esvaziaram
carteiras. Todo este progresso devia garantir cada vez melhores perfumes
segundo o princípio fundamental que, relembro, é cheirar bem, mas não!
Vejamos:
Em 2003 Burberry lança fragrância
a “Brita” deixando encantados trolhas e calafeteiros um pouco por todo o mundo.
Em 1964 Fabergé lança “Bruto”, um perfume de homem e para homem, e que homem
não sonha em cheirar enfim… a bruto! Mais preocupante é o segmento de mercado
estreado por Cacherel com o seu “Anais Anais”… o que dizer… bem… talvez que
para não ficar atrás da concorrência, Chanel decidiu lançar em 1984 “Côcô”
alimentando mais um capítulo deste perigoso desvio dos princípios da
perfumaria.
Em 2005 Thierry Mugler trouxe a
público a fragrância “Alien” guardada, há décadas, em grande segredo na área 51
pelo governo dos EUA e apesar de estar entre nós há quase dez anos ainda
ninguém sabe muito bem ao que aquilo cheira mas um transeunte inquirido pela
669 definiu-a como “Echqjito”. Em mil nove nove e oito, Givenchy lançou “Pi” e
que rapariga nunca fantasiou com o seu príncipe encantado no seu corcel branco
a cheirar a 3,14159265359…
A preocupação cresce quando determinadas marcas se comercializam
sobre designações olfactivamente desagradáveis como a italiana Diesel que
insiste em vender perfumes ricos em hidrocarbonetos de origem fóssil ou a
também italiana Just Caballi que prefere notas equídeas nos seus aromas.
Mas esta calamidade vem de trás, pois já em 1934 William Schultz vendia “Especiaria
Velha” como se fosse uma coisa espectacular. É verdade que o senhor Schultz
nunca especificou qual a especiaria em questão, possivelmente para não ferir os
sentimentos a nenhuma droga culinária mas experimente o leitor inalar louro
bolorento e verá que não é nada pelo que valha a pena largar algumas dezenas de
euros.
Até à próxima e não se esqueçam: se querem cheirar bem,
lavem-se.
Saúdinha,
Egídio Desidério
Mensagem do Opina: "669 - A Crónica do Quiabo" é a nova rubrica de humor do Opina, na qual o Sr. Egídio Desidério apresentará temas variados e assuntos diversos. Acompanhem no Opina!
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