Nascida em Braga a 30 de Abril de
1993, Iris Palmeirim de Alfarra publicou em 2011, aos 18 anos, a sua primeira
obra, Shinegow, primeiro volume de
uma saga com o mesmo nome, lançada pela Chiado Editora.
Hoje, aos 20 anos, Iris estuda
Biologia Marinha na Universidade do Algarve e aceitou o convite do Opina para
partilhar connosco algumas das suas vivências e opiniões sobre o que é ser uma
jovem escritora em Portugal.
Fig 1: Iris e a capa de Shinegow, desenhada por si |
Opina: Iris em
primeiro lugar deixa-me agradecer-te por teres aceite o convite do Opina e por
estares hoje connosco nesta entrevista.
A primeira pergunta que gostava
de te colocar tem a ver com o teres lançado um livro tão cedo. Não sendo
inédito, não é frequente ver-se jovens de 18 anos escreverem e lançarem obras
literárias. Foi difícil lançar Shinegow?
Iris: Obrigado também pela oportunidade de divulgação. Na verdade
não foi difícil. Eu comecei por fazer uma pesquisa na internet sobre
publicações de livros e dei com a página do IGAC (Inspecção Geral das
Actividades Culturais) na qual a obra tem de ser registada. A partir daí foi
enviar o livro para várias editoras, a Chiado Editora aceitou a publicação e
eu, claro, fiquei em pulgas e aceitei a oferta. O processo demorou-me cerca de
dois meses, a parte da procura, do registo e do envio, e cerca de um ano, no
total, a contar com a correção, a parte mais morosa e difícil.
"Uma coisa que descobri em relação à escrita... ...é que com uma folha em branco e uma caneta nós temos o poder de fazer tudo..."
Opina: Iris como e porquê começa uma jovem, aparentemente, com
interesses tão díspares, afinal estudas na área das ciências naturais, a
escrever literatura juvenil fantástica, e tão cedo? Quando é que te deu esse
“click”?
Iris: Bem essa história é uma que normalmente não se deve contar
aos mais novos <risos>. Eu sempre fui uma rapariga muito distraída nas
aulas, e algures no meu nono ano estava numa aula muito aborrecida em que já
não sabia o que havia de fazer e, com mais duas amigas, começamos com a ideia
de escrever uma história. E porquê uma história? Uma coisa que descobri em
relação à escrita, porque antes não gostava de escrever, é que com uma folha em
branco e uma caneta nós temos o poder de fazer tudo, podemos criar, temos as
leis da natureza na nossa mão. E eu achei aquilo tão divertido que comecei a
escrever com as minhas amigas e trocávamos folhas, cada uma com o seu pedacinho
de história e era uma paródia. Às tantas comecei a levar aquilo mesmo a sério e
a passar tudo a computador, mas o “click”, o começo de tudo, foi mesmo na tal
aula muito aborrecida.
Opina: E em termos de referências Iris? Onde foste e vais buscar a
tua inspiração para escrever? O que te motiva? Há bastantes autores que referem
a sua vivência pessoal em diferentes cenários culturais como um factor de
enriquecimento dos seus imaginários e obras. Achas que o facto de teres vivido
em cidades tão diferentes social e culturalmente como Braga, Paris, Lisboa e
Faro tem alguma influência na maneira como escreves ou achas indiferente para a
tua identidade como escritora?
Iris: Acho que o meu percurso é bastante relevante para a minha
formação enquanto escritora pois mesmo falando de inspiração eu vou buscar
muita coisa a acontecimentos da minha vida, a coisas que vi, que vivi, a
lembranças, mas é difícil dizer o que seria diferente em mim ou na minha
maneira de escrever se as coisas tivessem sido diferentes, não faço mesmo
ideia. Falando do que me motiva, as minhas inspirações são várias. Começou por
ser a amizade que tinha com uma colega que escrevia comigo mas acima de tudo e,
com o tempo, o poder transmitir uma série de mensagens sobre coisas que vivenciei
e que acho importante passar às pessoas tornou-se a principal razão e o que
mais motiva para continuar a escrever.
"... poder transmitir uma série de mensagens sobre coisas que vivenciei e que acho importante passar às pessoas tornou-se a principal razão e o que mais motiva para continuar a escrever."
Opina: Iris falando de Shinegow,
a tua obra publicada, passaram quase três anos desde a data da publicação, com
muitas experiências de divulgação pelo meio, idas a escolas, entrevistas,
apresentação do livro na Fnac, participação no Ignite Algarve. Que balanço
fazes deste período e que mudanças trouxe à tua vida a publicação de Shinegow?
Iris: Esse período foi muito importante para me subir a
auto-estima. Eu por ser muito distraída, nunca fui uma excelente aluna, e tinha
a auto-estima um bocado baixa. Para além disso a experiência foi muito
enriquecedora e engraçada para mim. Eu quando lancei o livro fui a cerca de
dez, onze escolas, entre Braga, Lisboa e o Algarve e o que mais gostei, o
momento que mais piada achei, sendo sempre interessante e divertido ir falar
com miúdos, foi quando cheguei a uma escola, a um anfiteatro, creio eu para
falar com três turmas do 5º ano e todos os miúdos terem uns papeizinhos e eu
reparar que eles tinham feito um trabalho de pesquisa sobre mim, entrevistas
que me tinham feito, o meu percurso, fotografias e um rapaz perguntar-me “A sua
comida favorita é lasanha não é?” e eu ficar com um ar “Como é que ele sabe
isto?” e realmente ter que admitir que lasanha é uma das minhas comidas preferidas
<risos>. E estes momentos também me fazem continuar a escrever, claro.
Opina: E qual o feedback que tens tido dos teus leitores? Sentes
que aquilo que queres passar é percepcionado por quem lê Shinegow?
Iris: Sinto que normalmente a coisa passa. Apesar de que, por
exemplo, nestes momentos de divulgação muitos dos miúdos ainda não tinham lido
o livro, uns sim, outros ainda não, mas sem saber com certeza se eles
perceberam bem as mensagens que quero transmitir acredito que, mais cedo ou
mais tarde, vão pensar no assunto e que inconscientemente a mensagem é
transmitida. Em termos de feed-back, até agora, só tenho tido bons feed-backs,
os mais jovens normalmente dizem que gostam muito, alguns leitores mais velhos
já me disseram que às vezes a questão dos nomes é algo confusa, por haver
mudanças de nomes e que isso implicava que se voltasse atrás para ver quem é
quem e isso é algo que mudará no segundo livro, adiantando um bocadinho, será
um livro de muita mudança, Shinegow
dará uma grande volta.
Opina: Uma coisa que te queria perguntar antes de voltarmos ao
segundo livro tem a ver com o facto de hoje estares a meio de uma licenciatura
que nada tem a ver com literatura ou com o conteúdo do que escreves, no domínio
do fantástico, e por isso mesmo pergunto-te, como é conciliar a escrita com as
obrigações académicas, familiares e os outros interesses para além da escola,
da escrita e da família?
Iris: Não é fácil. Especialmente em épocas de exames é quase
impossível. Eu tento manter uma rotina de escrever um bocadinho todas as noites
mas nem sempre consigo. Às vezes estou cansada, outras apetece-me fazer outras
coisas, mas dentro do possível consigo manter um determinado ritmo e hoje a
coisa está encaminhada.
Opina: 3 anos após a publicação e com uma tiragem de 550
exemplares, dos quais restam certamente poucos ou nenhum, é expectável para
breve uma segunda edição de Shinegow?
Se sim, haverá mudanças? Quais?
Iris: Eu espero bem que sim. Pelo menos, vou lutar para que isso
aconteça, apesar de achar que, neste momento, é essencial para divulgar mais a
obra a publicação do segundo volume, é a chave fundamental para aumentar o
alcance de Shinegow. Ainda assim, se
houvesse a oportunidade de amanhã lançar uma segunda edição haveria pequenas
coisas que escaparam a cinco revisões do livro e que mudaria, pequenos erros
ocasionais, e talvez pôr sempre os dois nomes das personagens, um entre parêntesis,
para tornar mais fácil a leitura. Há ainda um erro, completamente ao lado, que
me vieram dizer, que é o facto de eu falar do euromilhões numa rapariga que
vive na América <risos>. Essas pequenas coisas. Acho que alterações de
fundo não são de esperar.
"Não tenho uma data definida mas tenciono acabar este ano e mais tardar em Dezembro já estar a lançar o livro."
Opina: E para quando a aguardada continuação? Tens alguma data
idealizada?
Iris: Não tenho uma data definida mas tenciono acabar este ano e
mais tardar em Dezembro já estar a lançar o livro. Ainda há muito a desenvolver
mas estou já a meio do livro, que será maior que o último parece-me, e estou
confiante que, correcção incluída, é algo para estar pronto, no máximo, até ao
fim de 2014.
Opina: E planos para o futuro, para além de Shinegow?
Iris: Eu por enquanto estou mais focada em acabar a saga Shinegow mas já me surgiram algumas
ideias e escrevi, há um par de anos, um pequeno texto, mais metafórico, sobre o
aprisionamento que eu sinto nas aulas e que pretendo publicar. A ideia é lançar
uma crítica ao nosso ambiente de escola de maneira simples de modo a que seja
acessível ao público mais jovem. Nesta fase o que estou há já algum tempo a
procurar é um ilustrador que trabalhe a parte gráfica do texto.
Opina: Como e ondem podem os leitores saber notícias e ir
acompanhando Shinegow e o teu
percurso literário?
Iris: O facebook é a melhor plataforma para seguirem. O Shinegow
tem uma página própria alojada no link https://www.facebook.com/Shinegow
por Nuno Soares
Mensagem do Opina: O Opina deseja agradecer à Iris Palmeirim de Alfarra por nos ter concedido esta entrevista, a primeira da rubrica Jovens Autores, aos que nos fizeram chegar sugestões e questões a colocar, e deixamos o desafio a leitores e autores que queriam ver determinado trabalho/escritor evidenciado nesta rubrica a entrarem em contacto com o Opina. A todos um muito obrigado!
Opina
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